Gêneros de Documentário: quais são os tipos?

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Anteriormente aqui no Blog, já dei algumas dicas importantes sobre como escrever um argumento de documentário. Dando sequência neste tópico, hoje vou abordar alguns gêneros de documentários e explicar suas principais características. Antes de sair por aí com sua câmera na mão, apontando para seus temas e assuntos, é preciso pensar qual abordagem será dada para esse conteúdo. Entender os gêneros  é uma maneira de se munir com mais ferramentas para elaborar sua narrativa.

O que é Gênero?

Vamos definir melhor o termo gênero. Em poucas palavras, gênero é um método de classificação que agrupa obras artísticas de acordo com suas semelhanças e afinidades. Essas características podem ser relacionadas ao tema, ao formato, à narrativa, à forma, à linguagem, dentre muitas outras. Portanto, os gêneros de conteúdo audiovisual são uma expressão cultural em si, já que tentam organizar algo que é mutável e cada vez mais dinâmico.

É muito complicado elaborar uma lista definitiva de gêneros, pois isso está sempre se transformando em nossa sociedade na medida em que consumimos e produzimos conteúdo audiovisual. O primeiro pensador a olhar com mais afinco para o assunto foi Aristóteles em sua Arte Poética. Lá ele identificou três gêneros principais:

  • Tragédia: retrata seres melhores do que nós;
  • Comédia: retrata seres piores do que nós;
  • Drama: retrata seres iguais a nós;

Desse modo, podemos observar que Aristóteles fez uma classificação baseada no tipo de personagem que essas obras representam. De fato, a característica escolhida pelo filósofo grego parece ser fundamental para a definição desses três gêneros, já que são bastante distintas e isso ajuda a evitar confusão nas classificações. Dezenas de outros autores e pensadores elaboraram suas listas de gêneros, mas esse assunto parece nunca se esgotar. São inúmeros os subgêneros e gêneros de documentário que podem surgir a partir da mistura entre eles.

Gêneros, Subgêneros e Misturas

Os gêneros de documentário são mutáveis. Eles podem surgir e desaparecer da produção cultural. Na busca por uma narrativa original, muitos autores e diretores acabam misturando numa só obra elementos que caracterizam gêneros completamente distintos. Quando esse tipo de mistura dá certo e influencia um número relevante de obras, o novo formato começa a ganhar relevância cultural e pode se tornar um novo gênero.

Alguns bons exemplos dessa mistura são os gêneros (ou subgêneros) Mocumentário e o Terrir. No primeiro, misturou-se a linguagem do documentário com  elementos narrativos da ficção. O longa Distrito 9 é uma referência interessante desse tipo de obra. No segundo, aproximou-se dois gêneros que provocam reações distintas nas pessoas, o terror e a comédia, como fez muito bem a franquia Todo Mundo em Pânico.

Gêneros de Documentário mais comuns

A lista abaixo foi elaborada pelo pesquisador Bill Nichols, em seu livro Introduction to Documentary. A abordagem classificatória escolhida por ele tem bases históricas e a lista foi elaborada em ordem cronológica. Bill identificou os elementos que caracterizam obras documentais desde o início da produção desse tipo de conteúdo, conforme as técnicas foram surgindo e sendo aprimoradas.

É importante ressaltar que esta classificação não é feita de maneira exclusiva, permitindo que uma obra possa apresentar ao mesmo tempo elementos originários de gêneros de documentário distintos. A identificação de uma obra documental dentro de um gênero é feita pela técnica predominante na obra.

Gênero Poético

Neste subgênero de documentário, a obra é tão autoral quanto um filme de arte. Trata-se de uma colagem de fragmentos da realidade, trechos da vida real, montados e organizados sem uma lógica narrativa muito definida. Esse gênero tem por objetivo transmitir sensações em vez de uma mensagem clara e objetiva. A subjetividade predomina por meio das imagens e dos sons escolhidos com o objetivo de quebrar as convenções narrativas tradicionais e oferecer uma experiência diferente ao espectador.

Um exemplo desse tipo de obra é o longa Koyaanisqatsi.

 

Gênero Expositório

Ao contrário do Poético, o gênero de documentário expositório privilegia a narrativa. Uma mensagem clara está sendo transmitida, com uma retórica bem construída e argumentos bem elaborados, geralmente expressos por uma voz over. As imagens estão à serviço da narrativa, reforçando ou contrapondo o que está sendo dito pela locução.

Esse tipo de documentário costuma utilizar como personagens pessoas que são especialistas em suas áreas de atuação, organizando de modo lógico os fragmentos do mundo real retratados pelo documentarista.

A série documental Cosmos, produzida em 1980 e depois revisitada em 2014, é um bom exemplo desse gênero.

 

Gênero Observação

O documentário de observação, como o próprio nome diz, tenta observar o mundo real da maneira como ele se apresenta. Nesse gênero, o documentarista tenta interferir o mínimo possível no ambiente para poder registrar a realidade do jeito que ela seria como se ele não estivesse ali. Contudo, a simples presença da câmera num ambiente muda o comportamento das pessoas e pode afetar essa representação crua da realidade.

Esse tipo de obra é mais comum nos temas relacionados à história natural e vida selvagem, onde os documentaristas tentam passar despercebidos para captar cenas incríveis da natureza. Um bom exemplo desse tipo de projeto é o documentário vencedor do Oscar, A Marcha dos Pinguins.

 

Gênero Participativo

Se anteriormente o documentarista procurava observar, explicar e retratar a realidade de uma perspectiva um pouco mais distante, no gênero participativo ele se relaciona diretamente com o mundo e a obra. De um modo geral, o tema desses documentários é a relação do documentarista com o mundo. As impressões e opiniões dele importam para a narrativa que está sendo elaborada.

Um diretor que ficou conhecido por produzir filmes desse gênero é o documentarista Michael Moore, autor de obras como Tiros em Columbine e Fahrenheit 911.  Outra obra que reflete bem o gênero participativo é o documentário Super Size Me, onde o documentarista Morgan Spurlock passa um mês inteiro fazendo todas suas refeições no McDonnald’s. A obra analisa as consequências dessa dieta, com base na experiência do próprio diretor.

Gênero Reflexivo

Em oposição ao gênero participativo, onde o documentarista se relaciona diretamente com o mundo, no gênero de documentário reflexivo, ele se relaciona com sua audiência. Por vezes, esse tipo de obra tem um caráter metalinguístico, já que questiona a qualidade da representação da realidade por meio de um documentário.

Ao invés de entregar uma reflexão pronta por meio de argumentos bem estruturados, como faz o documentário expositório, o gênero reflexivo traz a audiência para junto da reflexão, fazendo com que temas até então considerados familiares se pareçam estranhos.

O documentário de João Moreira Sales sobre seu mordomo Santiago é um ótimo exemplo disso. O diretor, que inicialmente havia pensado em produzir um documentário expositório sobre um personagem muito interessante, precisou mudar de abordagem para conseguir terminar a obra décadas depois de ter captado as imagens.

Gênero Performático

Neste gênero, o documentarista utiliza a dramatização ou a performance, para compor a narrativa da obra. As cenas dramatizadas, ou as performances realizadas, tem por objetivo reforçar e ampliar o significado da realidade que está sendo narrada. Esse recurso pode ser usado tanto para retratar cenas do passado, quanto para projetar um futuro.

As performances também oferecem a possibilidade do documentarista inserir um pouco de subjetividade na narrativa, em oposição às explicações sempre objetivas do documentário expositório. A série documental produzida pela NETFLIX sobre arte e design chamada Abstract, utiliza muito bem as performances para elaborar sua narrativa repletas de subjetividade.

Os Gêneros Temáticos

Outra maneira de classificar os gêneros de documentários é pelos temas que eles abordam. Muitas obras podem ser agrupadas desse modo, o que ajuda inclusive para uma organização menos conceitual e mais prática do ponto de vista do mercado. Os canais de TV que trabalham com documentários costumam se referir às obras por meio de seus temas, enquanto os autores dessas obras podem usar a classificação de Bill Nichols para compor suas narrativas.

Os temas mais comuns de documentários são:

  • Musicais: abordam a realização de um show, de uma música, do trabalho do artista;
  • Biográficos: focados na trajetória de vida de seus personagens;
  • História Natural: obras que abordam temas relacionados à geografia e à natureza;
  • Vida Selvagem: obras mais focadas na biologia da natureza;
  • Sociais: retratam temas antropológicos e a vida em sociedade;
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