Chappie – IA sob novo ângulo.

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O longa de ficção científica Chappie, dirigido por Neil Blomkamp (Distrito 9 / Elysium), foi lançado em 2015 pela Columbia Pictures. Atualmente disponível na NETFLIX, a obra traz uma abordagem diferente para o tema Inteligência Artificial.

Em vez de a IA ser apenas um tipo de ferramenta usada pelo ser humano, uma espécie de super computador que quando desperta para a consciência possui objetivos claramente definidos, o despertar para a consciência em Chappie é temperado pela ingenuidade e traz um outro ponto de vista para a dimensão psicológica de uma IA.

Apesar de possuir algumas ressalvas, de um modo geral eu gostei do filme. Antes de seguir falando, é sempre bom lembrar que daqui pra frente, é tudo spoiler!! Então, não leia se ainda quer ver o filme.

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Chappie – Inteligência Artificial temperada com Ingenuidade.

Em Her, filme escrito por Spike Jonze e vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, Samantha é uma voz de computador interpretada por Scarlett Johansson que acaba se apaixonando pelo seu dono, o escritor Theodore. Ao longo do filme vemos essa relação de amor homem-máquina evoluir, e ruir, passo a passo.

Toda Inteligência Artificial possui a capacidade de aprender. Quando Samantha é vendida para milhares de usuários, esse nível de aprendizado do software dela cresce exponencialmente. Samantha se torna uma inteligência maior, num espaço de tempo relativamente curto, e segue seu destino para uma outra missão.

Em Matrix, as máquinas dominam um distópico planeta Terra e cultivam seres-humanos para produzir energia. É um objetivo bastante específico. No game Detroit: Became Humam, os andróides são um produto comum no mercado. Utilizados para várias tarefas, que podem ir desde fazer sexo com seu dono ou trabalhar na polícia da cidade, alguns andróides acabam despertando para a consciência e passam a questionar sua função naquela sociedade. Luta de classes versão homem e máquina.

Chappie pega essa temática do despertar a partir de outro ângulo: o dos primeiros anos de vida do ser humano.

Criador e Criatura

Chappie e Dr. Deon
Chappie e Dr. Deon

Dr. Deon Wilson é um engenheiro muito talentoso, responsável pela criação de uma nova força policial em Joanesburgo, na África do Sul. Trabalhando no departamento de segurança local, ele desenvolveu um exército de andróides policiais. São soldados blindados que auxiliam os soldados reais nas operações policiais por toda a cidade. Uma maneira segura e eficiente de combater o crime.

Ao fazer uma atualização em seu software, Dr. Deon consegue criar uma inteligência artificial. Porém, é preciso realizar um teste transferindo o software para um dos andróides. Motivado pela curiosidade em saber se sua criação deu certo, Dr. Deon rouba um andróide que estava para ser descartado após sofrer um dano na bateria durante um combate.

Pra mim, o filme começa de verdade nesse momento, quando ele sai da Polícia com os pedaços do robô na Van. Durante o caminho de sua casa, ele é abordado por um grupo de bandidos que busca uma maneira de barrar os andróides da polícia para continuar cometendo seus crimes. Eles sequestram o Dr. e o obrigam a fazer o “robô da polícia” trabalhar pra eles.

Deon instala o software no robô e para a surpresa de todos, dá certo. Quando o andróide é ligado, ele tem a capacidade de aprender por conta do software que roda na CPU dele. Porém, não há nenhuma informação na memória de Chappie. Tudo o que ele aprender daqui pra frente, vai ser interagindo com o ambiente ao seu redor.

É o despertar de uma mente inundada pela ingenuidade. São vários os momentos em que o excesso de ingenuidade de Chappie nos faz ter uma empatia enorme por ele. Não há nenhum outro grande objetivo maior em sua consciência, além o de aprender. Aos poucos Chappie vai conquistando seu lugar no mundo, convivendo com um grupo de bandidos e recebendo as visitas esporádicas de seu criador, até que um dos bandidos lhe diz que sua bateria irá acabar.

Chappie descobre que vai morrer em breve e isso transforma completamente a relação com seu criador. Quando tudo é colocado a prova, Chappie consegue salvar a vida de Dr. Deon copiando sua consciência para um outro androide.

Criador e Criatura pela primeira vez, são feitos da mesma coisa.

As ressalvas…

A premissa de Chappie é muito bonita e foi bem desenvolvida no roteiro do longa. Porém, alguns personagens são bastante rasos e caricatos. Como por exemplo, o vilão Vincent Moore (Hugh Jackman) que é um engenheiro rival do Dr. Deon com um projeto de força policial muito mais bélico. Também podemos falar o mesmo para o grupo de bandidos que sequestra Chappie.

As necessárias cenas de ação impostas pelo gênero acabam tomando o espaço que o filme poderia dedicar ao aspecto psicológico de Chappie e seus conflitos durante o aprendizado. Chappie é um belo retrato de uma consciência que avança dia após dia, sempre aprendendo, apesar de sentir medo do desconhecido.

Neil Blomkamp optou por desenvolver sua ótima premissa, apoiando-se no ritmo dos blockbusters de ação e ficção científica. Algumas cenas clichês cumprem sua função para criar o conflito no ambiente e tornam a narrativa acessível ao grande público.

Sequências de noticiários anunciando o fim dos tempos, intercaladas com cenas de exércitos se preparando para guerra, aceleram os fatos da história, tornando a resolução de alguns conflitos relativamente simples.

Concluindo, Chappie é um bom longa que provavelmente irá despertar alguma empatia em você.

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