Day Din: A place to be real

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O universo da música eletrônica possui muitas coisas bacanas. O movimento artístico e cultural que encontra lugar nas festas de psytrance é de encher os olhos. Fico feliz cada vez que percebo eventos ou trabalhos concebidos com bases conceituais sólidas. Eu costumo reparar bastante nesse lance dos conceitos.

Sempre que vejo uma capa de CD, ouço alguma música ou assisto uma performance, procuro encontrar os conceitos que estão inseridos naquele trabalho. Faço isso quase que involuntariamente e quando encontro (ou projeto) o significado presente na obra um grande sorriso invade meu rosto. Foi o que aconteceu quando vi a capa do disco “A place to be real”, do DayDin, um psytrance progressivo da melhor qualidade!

A place to be real, análise.

Quando eu estava no primeiro ano da faculdade, um professor de fotografia (grande Jõao Carlos!) me ensinou algumas coisas sobre enquadramento que são realmente interessantes. Ele me disse que um determinado pintor, não me lembro o nome agora, costumava dividir o enquadramento de suas telas em quatro partes. Então vamos fazer um breve exercício aqui. Veja na figura abaixo um quadro dividido horizontalmente. De acordo com a teoria desse pintor (preciso muito me lembrar do nome dele!!) a parte de cima representa ascendência e a parte de baixo descendência.

Se tivermos uma figura localizada na parte de cima, pode-se dizer de uma maneira bem simplista que a ‘sensação’ é de que ela estará subindo. O mesmo ocorre se o ícone estiver na parte de baixo da linha divisória. A sensação será de descida.

Agora vamos dividir o quadro verticalmente. O lado da esquerda representa o ‘desconhecido’ e o lado direito representa o ‘conhecido’.

Se sobrepusermos as duas linhas divisórias teremos quatro quadrantes.

–                    Ascendência para o desconhecido

–                    Descendência para o desconhecido

–                    Ascendência  para o conhecido

–                    Descendência para o conhecido

Com isso em mente, vamos dar uma olhada na capa do álbum do DayDin. A capa retrata alguns manequins guardados em uma sala e um deles está virado para uma porta que parece estar aberta. O ícone de um manequim abriga a idéia de representação do ser humano e ao mesmo tempo a do objeto que não se movimenta. A escolha desse ícone para representar o título do álbum foi bem interessante, já que ele nunca se tornará aquilo que representa. Na realidade, um manequim é apenas uma peça de plástico e nada além disso.

DayDin - A Place to be real

Agora vamos colocar aquela divisão criada pelo pintor o qual o nome me foge da memória como uma criança de 6 anos foge do banho.

Então a que conclusão chegamos agora? Na divisão horizontal, o manequim está situado bem no meio do enquadramento. Ou seja, não sobe e nem desce. Está parado, como todo bom manequim deve ficar: parado. Na divisão vertical ele está localizado no quadrante direito virado de frente para o quadrante esquerdo. Desse modo podemos dizer que nossa amiga de plástico está num lugar conhecido olhando para um lugar desconhecido.

O artista que concebeu essa capa utilizou uma subjetividade magnífica para representar o título do disco. Ele criou um manequim que olha para uma porta aberta e admira a realidade quase que desejando-a. Assim como um ser humano, esse manequim vive um conflito pois o fato de ser matéria inanimada não o deixa buscar a resolução de seu desejo: tornar-se real.

Ao mesmo tempo em que a figura da mulher que olha para o desconhecido nos traz a idéia de admiração e busca de conhecimento, o ícone do manequim nos lembra de que essa busca nunca poderá ser completada, restando apenas a possibilidade da contemplação. E o único lugar em que um manequim poderá contemplar alguma coisa é na capa de um disco chamado ‘A place to be real’.

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