A eterna fase de latência de Ed Motta

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Resolvi escrever sobre Ed Motta por dois motivos. Primeiro porque ele é um cara bem bacana, tanto musicalmente, quanto pessoalmente. E em segundo lugar, porque lendo sua biografia pude perceber que ele é um exemplo clássico daquelas teorias malucas de Freud sobre o desenvolvimento da personalidade. Como não sou psicólogo, mas sim entusiasta, não posso explicar detalhadamente a teoria desse tcheco fã de mitologia grega. Mas vou dar meus pitacos!

Freud dividiu o desenvolvimento da personalidade em cinco fases, classificadas de acordo com o deslocamento da libido: Oral, Anal, Fálica, Latência e Genital. A libido é uma energia vinda do que ele chamou de instinto de conservação (algo parecido com ‘preservação da espécie’). Ela pode ter características sexuais, relacionadas a procriação, e características intelectuais, relacionadas ao entendimento do mundo e sobrevivência.

O que nos interessa aqui é a Fase de Latência. Segundo Freud, nesse período da vida a libido da criança passa a ter caráter intelectual. Isso explica porque existem ‘crianças prodígio’. Manja aqueles moleques de 12 ou 13 anos que sabem tudo sobre um determinado assunto? Então, toda a energia dele foi focada para o aprendizado daquele tema. Imagina só! Um cérebro fresquinho, pronto para ser infestado de informações e que não tende a se distrair com vícios e sexo! É literalmente uma esponja de informações.

Mas e aí? O que isso tem a ver com Ed Motta? Bom, vamos dar uma olhada na biografia do cara!

Biografia Ed Motta

Eduardo Motta nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 17 de Agosto de 1971. No início dos anos oitenta, ele começou a demonstrar um traço de sua personalidade que o caracteriza até hoje: “a voracidade enciclopédica com que avançava sobre um tema que o interessasse” (li essa frase a biografia e reproduzi aqui porque eu não saberia definir melhor).

Tá vendo?! Freud explica! Nessa época ele tinha entre 10 e 12 anos de idade, e vivenciava plenamente a Fase de Latência da teoria de Freud. Mas no caso dele não foi somente uma fase. Essa ‘mania de aprender’ se tornou um pilar fundamental de sua personalidade.

Ed cresceu rodeado por música. Na transição da infância para a adolescência ele já tinha no repertório musical o som de Tim Maia (seu tio biológico e pai da Soul Music no Brasil), bossa nova e samba canção (que seus pais ouviam), sem falar na disco music e canções internacionais (influência de sua irmã Regina).

A paixão pela música alcançou níveis irreverssíveis quando Ed conheceu o rock britânico de bandas como Led Zeppelin, Thin Lizzy, Humble Pie, dentre outros. Quando o autor da biografia dele escreveu “voracidade enciclopédica” ele não fez uma metáfora. Ed consome a totalidade dos assuntos de seu interesse. Se resolve que quer conhecer o rock britânico, ele vai ouvir todas as bandas que estiverem ao seu alcance. Vai comprar os discos em sebos, em feiras (é comum ver Ed Motta na praça Benedito Calixto em São Paulo, comprando LP’s nas manhãs de sábado) e pagará o que for preciso. Depois de absorver as influências, ele guarda o exemplar na sua extensa coleção. Ed é um daqueles fãs do vinil e possui milhares deles em sua casa.

Nesse momento você deve estar com a impressão de que ele é um verdadeiro nerd gordinho. Mas não tire conclusões precipitadas! Ed Motta não fica só na teoria, o tesão dele é por tudo o que aprende na prática. Não é à toa que ele é multi-instrumentista. Quem comprar o DVD Poptical, vai poder assistir nos extras as explicações que ele dá sobre o processo criativo. Ele disseca e depois mistura conscientemente as influências que estuda e explica tudo naquela linguagem de músico de jazz (badú budá vãru vurá vãããnnn). E o pior é que faz sentido!

Conexão Japeri

Aos 16 anos de idade, Ed Motta foi vocalista do grupo Conexão Japeri. O primeiro disco trouxe hit’s como ‘Manuel’ e ‘ Vamos Dançar’. O sucesso no Conexão Japeri abriu as portas para o início da carreira solo. O primeiro álbum dessa fase se chama ‘Um contrato com Deus’. Nele estão presentes oito músicas e nove vinhetas que ilustram as diversas influencias musicais que regiam o artista na época.

Um trabalho de Ed Motta que vale a pena destacar aqui no Orelha Fina é o ‘Dwitza’. Nesse disco existem apenas duas faixas cantadas com letras. Em todas as outras, Ed usa a voz apenas como mais um instrumento dentro da harmonia musical. Ao invés de cantar palavras, Ed canta sons. Vale a pena dar uma orelhada nesse álbum!

Se você pensa que o único assunto que o interessa é música, está enganado. O cara é enólogo (pessoa que estuda e classifica vinhos), sabe tudo de cerveja, de quadrinhos (a esposa dele é quadrinista) e de cinema clássico. Ed Motta é o tipo da pessoa com que se pode passar uma semana sentado numa mesa de bar conversando. Afinal de contas, assuntos e pestiscos não vão faltar!

Quem tiver afim de ler mais sobre o Eduardo, basta entrar no site oficial. É um prato cheio de informações sobre a vida e a carreira dele. Agora eu me pergunto: E se o Ed Motta sentasse no divã do Freud? Será que ele iria só ouvir as explicações, ou ia voltar após umas duas semanas, depois de ter lido tudo sobre o assunto, pra contestar a teoria do cara?

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