Telas Fórum 2015: Keynote Chris Brancato

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Além dos debates e painéis entre os principais nomes do mercado brasileiro, o Telas Fórum de 2015 promoveu a vinda de showrunners e roteiristas internacionais. Essa ação é fruto de uma parceria realizada com a Writers Guild of America. Este foi o KeyNote com o showrunner Chris Brancato, que liderou a produção da série Narcos, grande sucesso da Netflix em 2015.

Chris Brancato – Keynote

Abrindo o Keynote, Chris Brancato falou sobre o início da série Narcos. Ele disse que o projeto foi concebido em um hotel de Medelin, com diretor brasileiro, equipe americana, atores argentinos e é o maior sucesso na Alemanha. Portanto, o potencial para o mercado internacional nesse caso está presente também no modelo de produção do conteúdo.

Cinema versus TV.

Chris também falou sobre sua biografia. Em 1989 ele foi para Los Angeles para escrever para televisão, enquanto todos queriam escrever para o cinema. Ele lembrou que naquela época a TV era vista como uma arte menor. Cenário revertido pela qualidade crescente das produções de TV.

Nos anos 90, a TV a cabo trouxe uma difusão muito grande de conteúdo, com uma oferta ampla da canais e assuntos, promovendo concorrência maior nesse mercado. Atualmente, o streaming é quem está fazendo isso ao criar um novo campo de trabalho, do mesmo modo com aconteceu com a TV nos anos 90.

Quanto mais canais, mais acirrada é a competição pela audiência. E isso inclui conteúdo em dispositivos mobile. Hoje o principal programa da rede americana ABC possui cerca de 6 milhões de espectadores. No passado, um número dessa ordem seria considerado pequeno e derrubaria o show da grade de programação do canal. A audiência está se dividindo entre múltiplos dispositivos e serviços.

Voltando a falar sobre Narcos, Chris disse que a intenção inicial era que a série fosse falada em inglês. Porém, os produtores ficaram surpresos com o apreço da NETFLIX para fazer o show em espanhol. Chris encorajou os produtores brasileiros a pensarem em conteúdos para o mercado de VOD. Afinal, eles precisam de qualquer show, sobre qualquer tema em qualquer lugar do mundo.

Alguns mitos foram derrubados no processo de produção de Narcos. Um deles dizia que os americanos não assistem filmes com legendas ou falados em outras línguas. Chris destacou que para um show dar certo, sempre há algo que ‘puxa’ e dá suporte para o sucesso da série. Ou ela é baseada em um livro com boas vendagens, ou num ator famoso, ou num diretor renomado. NETFLIX faz isso com Big Data, e descobriu que usa série produzida com José Padilha tendo Wagner Moura no elenco daria certo. Já falamos sobre esse assunto aqui no blog nesse post.

A rotina de trabalho durante a produção da série é sempre puxada, especialmente para o showrunner, que acumula as funções de produtor e roteirista. Há grandes diferenças entre essas duas atividades. Por isso a Writers Guild promove cursos de produção para seus roteiristas associados nos Estados Unidos.

Sobre o mercado brasileiro, Chris reforçou que os produtores devem incluir o roteirista no processo. Chris acredita que os filmes brasileiros são os melhores que ele tem visto nos últimos tempos, destacando Tropa de Elite.

A good story well told is what people want to see.

Debate com Chris Brancato

Um breve debate com representantes do audiovisual brasileiro ocorreu logo após o Keynote. Chris respondeu às perguntas dos painelistas. O painel era composto por:

Maurício Stycer – Jornalista – UOL
Newton Cannito – Roteirista – Formata
Mariana Ricciardi – Produtora Executiva – Barry Company
Carina Shulze – Roteirista e Produtora – Chatrone

Não há uma grande série no mercado brasileiro.

Stycer iniciou o debate ponderando que no mercado brasileiro ainda não há uma grande série. Na opinião dele, existe um nó que impede isso aqui no Brasil. Chris respondeu que o modelo de financiamento baseado em anúncios pode não ser o ideal, especialmente quando falamos de algo inovador. Nesse sentido, o modelo de assinaturas, praticado pela NETFLIX, permite mais inovação.

Por outro lado, empresas que possuem o anunciante como principal fonte de receita estão percebendo o que ocorre com a audiência e podem começar a se movimentar também. Narcos demorou um ano e quatro meses para produzir apenas 10 episódios. Um tempo surreal para produções típicas de TV. Chris ressaltou a importância de um bom roteiro para o desenvolvimento do conteúdo.

Produtores versus roteiristas.

Newton entrou no debate dizendo que o modelo brasileiro restringe inovação por um vício mental. Não somente pelo padrão imposto pela Globo como líder de mercado, mas sim por um vício de mercado mesmo. É preciso mudar isso para não haver uma crise. O roteirista não possui nenhum poder na produção das séries brasileiras. Newton disse que chegou a ficar cinco anos sem produzir série pois nenhuma produtora teve a ousadia de dar poder ao roteirista. A produção independente é incapaz disso.

Mariana falou em seguida que a produção nacional é atual e está ocorrendo de modo intenso. Inputs são recebidos de todos os lados. O mercado brasileiro ainda está aprendendo a monetizar seus produtos, seja com product placement ou licenciamentos. Sobre a questão do roteirista, Mariana disse que muitas vezes o roteirista chega com uma ideia muito simples e quer uma autonomia grande sobre o projeto. Ela ressaltou problemas na entrega dos roteiros também, o que compromete a produção.

Carina foi produtora executiva e roteirista da série que produziu. Foi um aprendizado, é preciso saber como entregar. Deve haver conciliação entre as partes, produtores e roteiristas. E também é preciso ter responsabilidade.

Responsabilidade e foco no resultado.

Ainda sobre esse tópico da divisão de funções e responsabilidades, Chris aproveitou para falar sobre a relação dele com José Padilha. O showrunner foi esperto o suficiente para entender a dinâmica de que José Padilha via Chris como seu funcionário, o que não correspondia à realidade da produção. Porém, ainda era preciso escrever outros oito episódios para outros diretores dirigirem. Então, qual é a vantagem de arrumar briga por conta disso?

Ele citou novamente que a Writers Guild tem um programa de formação para showrunners. Na opinião dele, isso é algo que pode trazer resultados positivos aqui no Brasil também. Stycer comentou sobre a força da Globo, que atrai os melhores atores e roteiristas, impedindo inovação e o surgimento de uma grande série brasileira. Chris finalizou dizendo que a melhor maneira de trabalhar com diretores, é manter a mente aberta para as sugestões deles. É importante delegar tarefas para pessoas talentosas fazerem seu trabalho.

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