Fórum Brasil TV 2014 – Financiamento da Produção: dilemas e soluções

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A questão do financiamento da produção audiovisual é um dos principais problemas do setor. Para as produtoras que dependem do repasse de verbas públicas, existe uma imensa burocracia a ser percorrida, o que resulta numa demora excessiva para a liberação do dinheiro do fomento. Isso tira a competitividade dessas produtoras, que não conseguem aumentar o número de produções e se tornarem sustentáveis.

Produtoras com maior capacidade em seu fluxo de caixa costumam adiantar o dinheiro do fomento com recursos próprios para que seus projetos não percam o timing do mercado, mas não são todas que conseguem adotar essa prática. Por isso, para atuar com mais segurança nesse mercado, é preciso procurar formas alternativas de investimento.

Esse assunto foi abordado no painel “Financiamento da produção: dilemas e soluções”, que contou com a participação de Sabrina Nudeliman, da Elo Company, Christian de Castro, da consultoria Zooks, Geórgia Araújo, da produtora Coração da Selva, Reynaldo Marchezini, da Mixer e Eduardo Rocha, Vice-Presidente executivo da Trivella Investimentos.

O painel contou também com a moderação de Paulo Markun, da Revanhce Produções.

Engenharia Financeira para projetos do audiovisual.

Sabrina Nudeliman - Elo Company
Sabrina Nudeliman – Elo Company

Para começar o debate, Sabrina falou sobre a Elo Company. Trata-se de uma distribuidora de conteúdo audiovisual que atua como um agente de vendas. Eles analisam o potencial do projeto para, em seguida, elaborar a “engenharia financeira” dele. Para exemplificar, Sabrina falou sobre o case “Do Lado de Fora”.

Esse filme distribuído no mercado internacional e chegou para a Elo por meio de um pitching. Do Lado de Fora é um filme de gênero, realizado com baixo orçamento. Teve recursos do FSA, angariados através da linha de fomento destinada às distribuidoras. Também usou recursos do ProAc e do Art 1º da Lei do Audiovisual. O projeto foi vendido para cinco países e está em negociação com mais dez.

Apesar dos diversos recursos angariados, Sabrina apontou que esse projeto poderia ter sido vendido antes de ser finalizado trabalhando com a modalidade de pré-venda. Esse tipo de venda confere credibilidade ao projeto, porém é um mecanismo pouco utilizado aqui no Brasil. Afinal, a demora no repasse dos recursos de fomento torna as produções imprevisíveis.

Quando uma empresa compra um produto, e paga antecipado por ele, é preciso saber quando ele será entregue. Os mecanismos de fomento atuais não permitem a definição desse cronograma. Segundo ela, isso poderia ser resolvido com linhas de financiamento automáticas.

Finalizando sua fala, Sabrina apontou que o mercado Israelense é focado no desenvolvimento dos projetos e isso é um dos motivos do sucesso deles. Outro fator que conta a favor de Israel é um aspecto cultural. Segundo Sabrina, eles não possuem medo de jogar um trabalho fora, que levou tempo e dinheiro para ser desenvolvido, e começar do zero novamente.

O que tem de ser financiado de fato? A formação e o fluxo de caixa.

Foi com essa pergunta que Georgia, da produtora Coração da Selva, abriu sua fala. Ela chamou a atenção para a questão trabalhista no Brasil. A mão de obra não é qualificada o suficiente para dar escala ao mercado. Outro fator que prejudica a expansão é o conjunto de leis trabalhistas, elas atuam como um gargalo na produção. Isso impacta diretamente no custo das obras que, de um modo geral, possuem 60% dos recursos destinados à folha de pagamento.

Realizar produção sazonal também sai caro. Uma estrutura de produção contínua é mais simples de se manter e de gerenciar. Além disso, há ainda um custo financeiro envolvido nos projetos fomentados, pois algumas produtoras precisam adiantar os recursos que não são liberados a tempo pelo governo.

Georgia acredita que existe um quadro favorável ao financiamento do setor, só falta maturidade para operar nesse meio. São vários os mecanismos disponíveis: Art. 3A, Art. 39, investimento privado, FSA, produção sob demanda, produção com verba publicitária e coprodução internacional são alguns exemplos. Georgia espera que em pouco tempo existam formas de financiamento híbridas e compatíveis com cada tipo de projeto.

Contudo, é preciso financiar o fluxo de caixa dos projetos com juros compatíveis, diminuindo o custo financeiro. Atualmente, a produção independente não possui fluxo de caixa e também não há o costume de receber encomendas com escala.

Capacidade de entrega e alternativas de financiamento.

Reynaldo Marchezini – Mixer

Sobre a capacidade de entrega dos produtos pela produção independente, Reynaldo, da Mixer, lembrou que em 2004 o mercado duvidava da capacidade da animação nacional. Hoje em dia esse cenário mudou bastante, financiando projetos por meio de coproduções e também pela pré-venda. Ele lembrou que não há regras definidas para atuar com novas mídias, pois os players ainda não sabem exatamente como participar nesse mercado em formação. É preciso inovar.

Temos um mercado, mas não temos uma indústria.

Uma das maneiras de inovar no financiamento aqui no Brasil é procurar o investidor privado ou fundos de investimento. Esse tipo de investidor participa ativamente do mercado de produção ao redor do mundo, contudo isso ainda não é uma realidade aqui no Brasil. Segundo Christian de Castro, da Zooks Consultoria, o produtor brasileiro é mal preparado para atuar com o mercado financeiro: “Temos um mercado, mas não temos uma indústria.”

Christian de Castro - Zooks Consultoria
Christian de Castro – Zooks Consultoria

Christian explicou que as produtoras brasileiras estão na fase de Venture Market, ou seja, ainda são consideradas capital de risco. E isso é uma característica interessante para investidores arrojados, que estão dispostos a assumir esse risco para alcançar boas projeções de lucros se o investimento for bem sucedido. Portanto, há dinheiro disponível no mercado, é preciso apenas aprender a linguagem dos investidores.

Dinheiro público não é a única alternativa.

Complementando a questão do Investimento privado, Eduardo Rocha, da Trivella Investimentos explicou sobre os tipos de mercados e de investidores. Um tipo de investidor muito presente em capitais de risco, ou Venture Capital, é uma figura conhecida por Investidor Anjo. Há dois tipos de empresas no Venture Market:

  • Early Stage: as que possuem faturamento de até R$ 15 milhões;
  • Late Stage: as que o faturamento chega até R$ 150 milhões.

Há ainda um fundo de investidores destinados exclusivamente à economia criativa. Esse fundo se chama FIEPEC. Mas o que é preciso entregar ao investidor para conseguir um aporte de recursos, seja ele um investidor anjo ou um fundo de investimento? A resposta é simples: um plano de negócios. É esse documento que vai dizer ao investidor que o seu projeto possui escalabilidade, característica que justifica o investimento. Além disso, é preciso ter um empreendedor com capacidade de produção.

Eduardo ainda indicou aos produtores que inscrevam suas empresas no Venture Forum, um site da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital. Eles estão sempre recebendo inscrições de empresas que buscam investidores. Nesse sentido, ele ainda deu algumas dicas sobre assuntos que interessam ao investidor quando ele está procurando uma empresa para aportar seus recursos.

  • Qual é a inovação que sua empresa traz ao mercado?
  • Quais são as características proprietárias dessa inovação?
  • O mercado está em crescimento?
  • Qual é a rentabilidade da empresa antes dos impostos (EBTIDA)?
  • Qual é a capacidade de produção da equipe?
  • Como é o Retorno Sobre o Investimento (RIO)?

Ele ainda lembrou que os investidores não aplicam dinheiro em projetos, mas sim em empresas. Finalmente, Eduardo anunciou que o BNDES soltou uma chamada pública para contratar um gestor de fundo de investimento multimercado, que trabalhará também com a  economia criativa. São R$ 2 bilhões disponíveis.

Em resumo, o financiamento do audiovisual não precisa passar exclusivamente pelo setor público. As políticas de fomento não são a única alternativa para angariar recursos no mercado.

Dicas pontuais.

A Sabrina indicou três referências para os produtores presentes no painel. São dois livros e um documentário:

  • Livro: StartUp Nation. sobre o mercado em Israel;
  • Livro: Como elaborar plano de negócios: Socha;
  • Documentário: Como foi criado Hollywood.

Reynaldo aproveitou para reforçar que as produtoras independentes de diversos tamanhos podem se associar para viabilizar projetos. Afinal de contas, todo mundo não precisa ser especialista em tudo.

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