Fórum Brasil TV 2014 – A TV que queremos – Painel de Abertura

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O primeiro painel do Fórum Brasil TV 2014 foi aberto e mediado pelo diretor do evento, André Mermelstein. Intitulado “A TV que queremos” a proposta desse painel foi a de debater os rumos da produção audiovisual no Brasil após a lei 12.485, também conhecida pelo apelido de Lei da TV Paga.

A TV que queremos.

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Participaram do painel alguns nomes importantes do mercado audiovisual. O premiado Diretor Cao Hamburger, o atual Vice-Presidente de Filmes e Séries da Turner, Rogério Gallo, o Presidente da Conspiração Filmes, Gil Ribeiro e o Diretor Belisário Franca, da produtora Giros.

A Lei da TV Paga estabelece cotas de programação para os canais que operam no Brasil. A implantação dessas cotas se deu de modo gradual durante os últimos três anos. Em 2014, as emissoras já devem cumprir o teto da cota, que corresponde à 3h30 semanais de programação brasileira em horário nobre. Isso movimentou bastante o mercado de produção independente, mas será que foi na direção certa? Para entender melhor como anda esse processo, André propôs uma importante questão para abrir os debates:

Como anda a produção independente brasileira?

Belisário Franca - Giros
Belisário Franca – Giros

Para falar de desempenho, primeiro é preciso estabelecer parâmetros. Belisário, da produtora Giros, propôs uma reflexão sobre esses parâmetros questionando: “O que quer a produção independente? E o que quer o mercado?”. Será que esses dois atores possuem os mesmos objetivos? Belisário acredita que essa é uma discussão saudável para a produção independente, apesar das críticas que fez à qualidade das produções. Segundo ele, a lei de cotas causou um efeito negativo, nivelando por baixo a qualidade das obras brasileiras veiculadas na TV paga. Nesse momento, as emissoras estão preocupadas em cumprir a cota e isso deixa a qualidade da programação para um segundo plano.

Como exceção, ele citou a série Contos do Edgard, produzida pela O2 e transmitida pela FOX. O aspecto positivo da lei está no aumento na produção de séries de ficção. Questionado pelo mediador sobre onde está o buraco na cadeia de produção, Belisário apontou: “É dinheiro e tempo de desenvolvimento de conteúdo.”

O que quer a produção independente? E o que quer o mercado?

Reforçando o coro da produção independente, Gil Ribeiro, da Conspiração, concordou com a afirmação de Belisário de que o buraco está na questão do dinheiro. Ele completou dizendo que o momento é de grande oportunidade para a produção independente na produção de séries: “Emissoras não possuem essa expertise no Brasil”. Essa produção pode trazer audiência com um baixo custo, desde que exista investimento adequado em roteiro e elenco.

Gil Ribeiro - Conspiração
Gil Ribeiro – Conspiração

Gil informou que a Conspiração investe em desenvolvimento de roteiro, por meio de capacitação interna de sua equipe. Para justificar esse investimento, ele fez uma breve análise do mercado separando-o em duas frentes distintas:

  • Produtoras que atuam com serviços de produção de conteúdo;
  • Produtoras que atuam na área de propriedades.

Para posicionar a Conspiração como uma produtora detentora de uma carteira de direitos patrimoniais, é preciso que ela seja dona do conteúdo que produz. Além disso, esse conteúdo precisa ter qualidade para que exista uma percepção de valor sobre ele. O investimento em capacitação para o desenvolvimento de conteúdo é algo estratégico na Conspiração. Segundo ele, o grande desafio das produtoras é possuir maior participação sobre os conteúdos que produzem, para se dedicarem ao mercado de licenciamentos.

Cao Hamburger

Seguindo nessa mesma linha, o Diretor Cao Hamburger lembrou que para a produção independente brasileira vai ter mais qualidade na medida em que adquirir mais experiência. Esse processo é demorado e envolve transmissão de conhecimento. Por isso é importante desenvolver uma escola de produção, formar equipes, criar uma geração.

O produto brasileiro será internacional quando tiver o DNA do Brasil.

Cao apontou também que não devemos receber o conhecimento estrangeiro como verdade absoluta. O Diretor valorizou a experiência dos realizadores brasileiros, fazendo um contraponto com os “gurus” de Hollywood que vêm ao Brasil ensinar seus métodos. É importante conhecer técnicas de roteiro e produção, porém é mais importante manter a característica brasileira na criação. “O produto brasileiro será internacional quando tiver o DNA do Brasil.”

Os gargalos da produção independente brasileira.

Rogério Gallo, VP da Turner.
Rogério Gallo, VP da Turner.

A primeira rodada do debate foi fechada com a opinião de quem vive o drama das emissoras. Rogério Gallo, da Turner, discordou enfaticamente de que o problema da produção independente brasileira seja apenas o dinheiro. A percepção dele é a de que pouco se discute os efeitos positivos que a lei trouxe ao mercado: “Ela apontou os gargalos da produção brasileira”. Um desses gargalos é a necessidade de profissionais qualificados em várias áreas. Ou seja, existe um problema na formação desses profissionais e por isso o mercado não está preparado para atender a demanda por produção de qualidade.

Ela (Lei da TV Paga) apontou os gargalos da produção brasileira.

Gallo disse que são poucas as produtoras capazes de produzir conteúdo de qualidade. Quando levamos em consideração o fato de que para atuar no mercado de produção de conteúdo as produtoras precisam possuir outras fontes de renda, isso fica bastante claro. De acordo com o VP da Turner, a Lei da TV Paga possui objetivo de longo prazo e posicionará o Brasil como um exportador de conteúdos. Isso reverte o quadro atual, que nos caracteriza como grandes importadores de formatos. Ele fechou sua fala reforçando que é preciso investir na formação de profissionais.

Em seguida, Belisário argumentou que os canais são rígidos demais quanto aos conteúdos que desejam. Gallo respondeu que, pelo menos na Turner, não existe pressão de fora sobre quais conteúdos serão adquiridos e veiculados pelo canal no Brasil. O problema é que os produtos nacionais são muito ruins de performance. Atualmente, eles representam um problema na grade de programação. Rogério finalizou dizendo que a relação entre o canal e os produtores tem melhorado na medida em que trabalham juntos. Essas figuras não estão em lados opostos.

Cao confirmou o argumento de Gallo, dizendo que suas produções de sucesso sempre foram fruto de uma relação bastante produtiva com os executivos dos canais. Gil também concordou com Cao, mas apontou uma questão importante sobre a produção financiada pelo governo. Os programas produzidos com dinheiro público não deveriam ser lapidados excessivamente para se encaixar nos modelos das grades das emissoras, afinal de contas eles representam um interesse público, e não privado. Na questão da formação, Gil apontou também que é preciso uma janela de oportunidade para que surjam novos profissionais.

Fechando essa rodada, Rogério disse desejar possuir produção local de qualidade. Isso é o que fará o canal possuir relevância com a audiência, melhorando a performance dos produtos do canal.

O efeito negativo da lei.

Já no final do debate, uma pergunta da plateia representou bem um dos atuais dilemas do produtor independente. Se para sobreviver no mercado é preciso investir em formação, como faz a Conspiração, como as produtoras médias e pequenas poderão se desenvolver? A resposta de Gil foi objetiva: “A lei que foi criada para fomentar o mercado, pode falir muitas empresas”.

A sobrevivência nesse mercado é fruto de uma agressividade de negócio. A burocracia na liberação de recursos não dá essa oportunidade às produtoras. Somente consegue agilizar o processo de produção quem possui fluxo de caixa para antecipar, com recursos próprios, o dinheiro do incentivo. Desse modo, o dinheiro que deveria servir para fomentar a produção e desenvolver o mercado é usado para repor um adiantamento que o produtor independente colocou do próprio bolso. Pequenos e médios produtores não possuem essa capacidade, por isso precisam ter outras fontes de renda.

A lei que foi criada para fomentar o mercado, pode falir muitas empresas

Nem mesmo produtoras grandes possuem garantia de trabalhos. É um mercado em formação e isso obriga as produtoras a serem generalistas. Belisário reforçou essa tese afirmando que há muita burocracia e lentidão, especialmente no FSA.

Fechando o painel, André Mermelstein apresentou um novo projeto da Converge. Trata-se do primeiro Festival Internacional de TV de São Paulo, previsto para acontecer em Novembro. Mais informações aqui.

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