De modo bem simples, é possível dizermos que existem duas maneiras de você financiar a produção de uma obra audiovisual. Uma é com os investimentos públicos por meio das diversas políticas de fomento ao audiovisual. São leis federais, estaduais e municipais que usam mecanismos variados para financiar esse tipo de produto. A outra maneira é com ‘dinheiro bom’. Essa é a expressão usada pelos produtores para designar o investimento privado.

Tradicionalmente, o setor audiovisual brasileiro se apoia bastante nas políticas de fomento. Este painel foi para falar sobre o ‘dinheiro bom’. O debate foi apresentado pelo Christian de Castro, sócio da Zooks Consultoria e Diretor Administrativo Financeiro da Afro Reggae Audiovisual, e contou com a presença da Chefe do Departamento de Economia e Cultura do BNDES, Luciane Gorgulho.

O entrevistado foi Fábio Barbosa, sócio conselheiro da Gávea Investimentos, que administra fundos privados de investimento com uma carteira na ordem de R$ 17,7 bilhões.

Como ocorre o investimento privado no mercado audiovisual?

Christian de Castro abriu o painel apresentando o trabalho realizado na Afro Reggae Audiovisual. Nos últimos meses, o recém criado braço audiovisual da ONG Afro Reagge, já contabiliza 15 projetos na carteira que estão em fase de desenvolvimento e produção. Christian passou o teaser do projeto chamado ‘No Rastro do Crime’, que será veiculado no canal +Globosat.

Em seguida, Christian lançou uma pergunta: Como esses projetos atraíram pessoas do calibre do Fábio, para investir no Brasil num momento de crise?

Empreendedores preparados e engajados.

Christian falou brevemente de sua relação com a ONG e com o José Júnior, fundador e coordenador executivo do AfroReggae. Contou que conhece José Júnior há muitos anos e que ele é um empreendedor que possui muito entusiasmo e determinação. Depois de apoiar diversos projetos do AfroReggae, o Júnior chamou Christian para tocar o projeto da produtora.

O projeto estava bem estruturado e organizado para se sustentar financeiramente. Do ponto de vista financeiro, é isso o que possibilita uma vida mais estável ao AfroReggae. Além disso, outro fator foi decisivo para atrair o investimento privado ao projeto. A mensagem era importante. Isso cria uma motivação maior no negócio pois o resultado do investimento terá um impacto positivo na sociedade. Em seguida, Christian e Luciane conversaram com Fábio Barbosa, gestor de fundos de investimento.

Fábio Barbosa e os investimentos do setor privado.

Como você vê o esgotamento da Lei Rouanet como mecanismo de incentivo cultural e social?

Fábio respondeu que os fundos de investimento precisam ter foco no retorno financeiro E no impacto social. Ele deu muita ênfase no E, dizendo que temos que sair da era do OU. Não é porque o projeto é de carácter social que ele não tem que estar bem estruturado, possibilitando retorno financeiro. A questão não é só ter boa vontade, também é preciso ter competência para levar aquilo a ter um impacto positivo na sociedade.

Quais caminhos você sugere a pessoas ou ONGs para trilharem caminhos semelhantes? Como elas começam?

Eu sou super otimista com uma série de mudanças que vem acontecendo. Essa geração é muito mais consciente do ponto de vista ético, social e ambiental. Os jovens aceitam a trabalhar por menos dinheiro para contribuir com uma causa que o significado lhes seja pertinente. Ou seja, muitos dispensam empregos que pagam mais para trabalhar com aquilo que eles gostam ou acreditam. O significado do trabalho para eles é tão importante quanto a remuneração.

Nossa geração não deixou um mundo melhor para nossos filhos, mas deixou filhos melhores para nosso mundo.

Então Fábio explicou que para atrair o investimento, a primeira coisa é saber que existe gente que também investe no propósito, na ideia, no conceito. Porém é preciso existir um líder que tenha credibilidade para tocar os projetos, desempenhando um papel importante na conquista do resultado. Se for para investir a fundo perdido, sem esperar retorno do projeto, é melhor trabalhar com doação. Assim não há o compromisso com a entrega e o processo todo é menos burocrático.

Fale um pouco sobre a diferença que faz ter alguém como o Júnior na liderança desse projeto do AfroReggae.

Fábio iniciou sua resposta falando sobre o dinheiro no mundo financeiro de hoje. Em alguns países há taxas de juros negativas. Isso significa excesso de dinheiro. Portanto, os fundos estão super-capitalizados. Há muito dinheiro disponível para o investimento. O problema passa a ser onde esse dinheiro será aplicado para gerar o retorno positivo.

Nesse sentido, o empreendedor é o cara que tem a visão daquilo que a sociedade está demandando. Faltam boas ideias que estejam respaldadas pela estrutura de um negócio. O Júnior realizou algo incrível num lugar onde todos acham que não daria certo. Se ele conseguiu fazer projetos magníficos ali, então é possível repetir o feito em qualquer lugar. Os projetos do Júnior vão adiante e atraem investimento porque ele tem entrega e está estruturado.