RCM 2016 – Fundos Privados de Investimento em Inovação

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Inovação é uma qualidade que toda empresa gostaria de agregar a sua marca. Porém, trabalhar com inovação não é algo simples. Uma ideia inovadora causa rupturas, seja abrindo novos mercados, ou revolucionando mercados já existentes. Mas como saber se uma ideia é realmente inovadora? Como os fundos de investimento privados identificam empresas e projetos com foco em inovação, para realizar suas aplicações?

Moderado pela Gerente do Departamento de Economia da Cultura do BNDES, Fernanda Farah, o painel sobre inovação contou com a presença de representantes de fundos privados de investimento. Alex Barbirato, CEO da Incube, Haroldo Korte, sócio fundador do fundo de investimentos Atomico, e Berbardo Zamijovsky, diretor executivo da 1188 Investimentos.

Como é o processo de investir em inovação?

Bernardo foi o primeiro a responder. A resposta foi longa e repleta de informações importantes. Ele falou sobre a 1188 Investimentos, uma empresa de investimentos com foco no growth, ou seja, no crescimento de empresas que já possuem um negócio testado e provado no mercado. O capital que a 1188 aporta nas empresas não se destina a selecionar e testar ideias. Eles partem de empresas que já venceram essa etapa e agora precisam de dinheiro para crescer mais.

Estratégia de investimento.

Bernardo explicou que a 1188 possui a estratégia de investir em outros fundos ao redor do mundo. Desse modo eles conseguem trazer conhecimento e inovação aos seus investimentos no Brasil. O processo de investimento se inicia com uma tese que precisa ser estudada e provada.

Inicialmente, o fundo faz o trabalho de mapear os setores e mercados onde deseja investir. É a partir desse mapeamento geral do setor que eles escolhem as empresas que são interessantes para receber investimento. Essa é a segunda etapa do processo de investimento. Somente quando o fundo já possui um conhecimento amplo do setor, eles começam a mapear as pessoas e as equipes.

Por fim, eles olham ao empreendedor e investem em empreendedores com quem eles gostam de trabalhar. Acertar o empreendedor é o ponto mais importante. Após essas etapas, o investimento se inicia. Tão importante quanto investir no lugar certo, é saber o momento certo de sair do investimento.

Existem três saídas principais. O primeiro é ter o retorno do investimento pelo lucro que o projeto gera. A segunda saída é realizar a venda da empresa para outros investidores, recebendo o retorno do capital investido. A terceira saída é a abertura de capital.  Normalmente a 1188 opta pela segunda saída.

Macro cenário.

Segundo Bernardo, os líderes brasileiros precisam se posicionar como líderes Latino Americanos. É preciso ter essa ambição, pois há espaço para isso. Outro ponto importante do macro cenário é que os setores da economia não funcionam isoladamente. O mercado de conteúdo é uma engrenagem de algo maior, dentro de um sistema bastante dinâmico. A 1188 investe tempo e dinheiro para entender as mudanças e as interações entre os setores.

O papel dos fundos de investimento também foi um tema abordado por Bernardo em sua resposta. Cada tipo de fundo de investimentos tem o seu papel, o seu setor de atuação. Portanto, ao procurar um fundo investidor é importante saber mais sobre a área de atuação dele. Bernardo ressaltou que o maior capital de um projeto é o tempo. Os fundos possuem muito conhecimento para agregar aos projetos e aos empreendedores. E isso significa tempo.

Tecnologias disruptivas, a economia do virtual e a inovação nessas áreas.

Alex da Incube foi o segundo a responder a pergunta de Fernanda Farah. Ele falou que a Incube é uma venture builder. Trata-se de uma empresa de investimentos que levanta ideias inovadoras praticamente do zero, com recursos próprios. Para saber mais sobre o que é uma Venture Builder, recomendo a leitura deste artigo.

Alex indicou a leitura de um livro chamado ‘A Quarta Revolução Industrial’, do economista Klaus Schawb, criador do Fórum Econômico Mundial. Alex falou sobre como tecnologias disruptivas transformam o mercado e a economia virtual. Há um artigo interessante sobre isso, no site do Fórum Econômico Mundial. Ele também falou sobre Blockchain e economia baseada em Bitcoins e sobre realidade virtual. Esses são assuntos bem específicos e cada um deles renderia sua própria série de posts aqui no blog. Vale a pesquisa.

Ao empreendedor não adianta apenas ter uma boa ideia. É preciso saber fazer. A ideia deve ser testada e lapidada para que evolua. Criar e testar protótipos ajuda nesse processo. Alex também falou sobre o Investimento Anjo, explicando que esse aporte de dinheiro serve principalmente para o empreendedor se dedicar exclusivamente ao negócio. A execução do negócio é muito importante e eles investem em pessoas que sabem executar. O investimento anjo também ajuda a profissionalizar as empresas, oferecendo melhor estrutura.

Inovação na internet.

Haroldo Korte, sócio da Atomico, explicou que eles investem em empresas de Internet. O dono do fundo é Niklas Zennström, ninguém menos do que o criador do Kazaa e do Skype. A Atomico está focada no mercado de produção de conteúdo. Ele citou alguns exemplos importantes na área de games.

A franquia Andgry Birds foi um dos projetos que recebeu investimentos do fundo. Quando foi criado, o jogo rodava apenas em computadores desktop. A adaptação para mobile fez o jogo explodir em downloads, o que acabou criando uma marca sólida. Atualmente, a principal receita do Angry Birds vem por meio dos licenciamentos de produtos.

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Outro exemplo da área de games é a produtora Supercell, famosa pelo jogo Clash of Clans. A Atomico ajudou o jogo a entrar nos mercados asiáticos, onde ainda era pouco conhecido. Atualmente a SuperCell é a maior empresa de game online do mundo.

Haroldo também falou que venture capital e disse que investimentos em inovação não acontecem somente nos EUA. Isso já é uma realidade em todo o mundo. A Atomico possui três investimentos em curso no Brasil.

Qual conselho para o empreendedor do audiovisual?

Haroldo e Bernardo responderam que todo o empreendimento deve ser tratado como algo grande, desde o início. É preciso ter um plano de negócios, o empreendedor precisa se profissionalizar. Não vai faltar investimento para projetos bem estruturados liderados por pessoas engajadas.

O que falta na indústria audiovisual para receber investimento?

Haroldo foi enfático. Falta governança nas empresas, além de um processo criativo estruturado. As companhias desse setor ainda são muito informais. O lado mais difícil dessa área está relacionada ao processo criativo.

Bernardo apontou para uma questão fiscal famosa no Brasil. O custo do capital é muito alto. Isso faz com que não exista atratividade para investir em ideias brasileiras. A taxa de juros alta força os investidores a irem para outra etapa de investimento, onde a ideia já foi testada. Iniciativas como o crowdfunding deveriam ser mais apoiados no Brasil para ajudar as empresas que ainda estão testando as ideias.

Nesse ponto Fernanda lembrou que os fundos públicos dão essa oportunidade, que não existe em outros setores da economia. O dinheiro público investe nas ideias em seu estágio inicial. Alex pegou carona no assunto do crowdfunding e chamou a atenção para um modelo de financiamento coletivo chamado Equity Crowdfunding. Nesse modelo, os investidores recebem participação na empresa em que aplicaram, em vez de apenas ganharem brindes do projeto.

Nesse momento do debate, Bernardo devolveu uma pergunta para a Fernanda, lembrando que toda vez que olhamos para linhas de financiamento, elas se baseiam em garantias de ativos reais, mesmo para empresas onde o conteúdo é intangível. Essas leis são inatingíveis para quem não tem ativos reais.

Case Peixonauta

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A resposta de Fernanda foi que o BNDES sempre se voltou para ativos fixos, mas a mentalidade dos financiamentos está mudando. O BNDES está tendo êxito no apoio de empresas onde o capital é intangível. O Procult já atua dessa maneira. Logicamente que é preciso ter empresas mais sólidas, que já tenham lucro com seus ativos intangíveis, para que se possa abrir mão das garantias reais nos financiamentos.

Como exemplo, ela citou o fato dos licenciamentos de produtos servirem de garantia. Em seguida, Fernanda apresentou o case do Peixonauta, uma animação infantil brasileira que fez bastante sucesso com licenciamentos e usou financiamento do BNDES em diversos momentos.

A crise afeta empresas inovadoras?

Os momentos de crise também são os momentos de oportunidade. O lado bom de uma crise é que ela te obriga a mudar de comportamento com facilidade. A inovação pressupõe o comportamento diferente, a quebra de regras. Claro que uma crise prolongada é prejudicial para qualquer negócio.

Alex disse que crises são épocas boas para investir fazendo ‘merger’, quando duas empresa se juntam. Bernardo lembrou de uma lição que aprendeu com um de seus primeiros chefes. A bolsa só sobe, porque antes ela havia caído. E ela só cai, porque subiu. A economia é dinâmica e temos que entender esses movimentos do mercado. Por isso que se gasta tanto com pesquisa.

No momento, os fundos procuram por empresas que tragam tecnologia que economizem recursos. Para Fernanda, do BNDES, empresas de conteúdo precisam ter foco na propriedade intelectual. No meio da conversa, Bernardo disse que a coisa que mais lhe incomodava na época em que era empreendedor eram os especialistas em não fazer. Falar qualquer um pode. O diferente é quem faz.

Haroldo, como gestor de um fundo e de uma empresa internacional, disse que todos os investimentos que eles fazem no Brasil são comparados com investimentos feitos lá fora. E o Brasil é mercado prioritário. Ele lembrou o fato de que para qualquer uma das grandes empresas de internet do mundo o Brasil está sempre em primeiro ou segundo lugar. Depende só de nós construirmos grandes empresas brasileiras. O potencial está aí com ou sem crise.

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