Telas Fórum 2015: Reality Show

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O Telas Fórum de 2015 trouxe alguns painéis dedicados a formatos específicos de programas. Debates sobre LifeStyle, Animação, Ficção e Documentários aconteceram durante os três dias de evento. Este é o resumo do painel sobre Reality Show, que contou com a presença de Daniela Busoli da Formata, William Pesenti do SBT, Fernando Sugueno da BAND e Carla Albuquerque da Medialand.

Pensando o Reality Show.

Cada participante do painel iniciou sua fala apresentando os principais projetos de suas empresas. William Pesenti mostrou alguns realities do SBT e destacou a importância que a emissora dá para a interatividade. Essa característica está presente nos programas da emissora há muito tempo, mostrando que o SBT gosta de ouvir sua audiência. Fernando Sugueno falou rapidamente da importância do reality para a BAND.

Carla Albuquerque apresentou os projetos mais recentes da Medialand, bastante apoiados no gênero do Doc-Reality. A produtora possui nesse gênero um de seus pilares de conteúdo. Em seguida, Daniela Busoli apresentou um teaser da sua nova produtora, a Formata. Aproveitando o destaque que os programas nacionais estão ganhando nas emissoras de TV aberta e fechada, fruto da demanda gerada pela Lei 12.845, Daniela, que já foi CEO da Endemol e da Freemantle, resolveu abrir sua própria empresa para atuar nessa área.  O gênero reality também é um pilar importante de conteúdo da Formata.

O debate se desenvolveu solto, com perguntas da plateia abordando as principais características do reality.

O que é reality?

Carla Albuquerque falou sobre o gênero de Doc Reality e como ele é adequado para abordar situações dentro de lugares impensáveis. Aqui o inusitado é o que rende conteúdo. São programas que registram experiências reais de pessoas comuns.

Daniela Busoli, da Formata, definiu o gênero como non-scripted, onde o conteúdo de realidade é o que compõe e caracteriza o produto. Dentro desse conceito é possível embarcar diversos sub-gêneros de reality. Há dezenas de variações: realities de confinamento, docu-reality, factual entertainment, game shows, talent shows, realities de transformação e etc. Ela reforçou ainda que esse é um gênero perene. Seus produtos duram muito tempo no ar.

Fernando discorreu de maneira mais ampla sobre o gênero, citando A Liga, que é um formato de jornalismo mas que possui uma pegada de docu-reality. Master Chef, Busão do Brasil, Projec Runaway e Mulheres Ricas também foram citados pelo executivo, que também vê o reality como um tipo de conteúdo perene.

Como vocês vêem a produção de realities brasileiros?

Dani foi a primeira a responder essa questão, dizendo que ‘uma hora tem que começar’. Ela ressaltou que é mais seguro para a TV aberta comprar formatos de programas que já deram certo em outros países, pois isso é uma garantia de que o programa funciona. O retorno para o canal é mais garantido e os riscos de audiência são menores.

Por outro lado, segundo Daniela, há muitos anos não surge um grande formato. A ausência de algo inovador no mercado abre boas possibilidades para que novos formatos sejam testados. Ela citou ‘Menino de Ouro’ no SBT e ‘Amazônia’ na Record, como exemplos de projetos originais que trouxeram bons resultados.

Depende muito da abertura que o canal te dá. Na TV fechada é mais fácil para levar novas criações.

Finalizando a resposta, Daniela ressaltou ainda que o casting é uma das etapas mais importantes da produção de um reality. No Talent Show, o júri se torna o diferencial.

Carla Albuquerque da Medialand disse que numa conversa com o criador do formato COPs lhe foi dito que criar um bom formato é como tocar um instrumento. É preciso ralar muito para que o formato fique bom. Carla ressaltou ainda que criar formatos com uma temporada não é bom. Isso porque ela considera muito caro criar formatos no Brasil e, por isso, é importante que os formatos ‘se sustentem’.

O aprendizado que a Medialand conquistou com docu-realities policiais lhe rendeu, além de um bom produto, a oportunidade de oferecer consultorias para outras produtoras sobre esse assunto.

Fernando chegou com uma visão de mercado, explicando que no mercado internacional existe uma espécie de divisão de tarefas entre os países produtores. Há gêneros que são feitos melhor num determinado local do que em outro. Cada país tem um core business. Como exemplo, ele citou a expertise brasileira em produção de novelas, enquanto Israel e Holanda se firmaram como países exportadores de formatos.

O investimento no desenvolvimento é pequeno pois falta fôlego para isso nas emissoras. “Quando você vai criar algo novo, percebe que já foi criado”. Nesse sentido, ele considera que a Lei da TV paga fomenta esse ganho de musculatura para produzir formatos. William concordou que é difícil para uma TV Aberta ficar testando formatos. Porém, o projeto Pequenos Campeões, produção da Formata, foi considerado um sucesso e já é uma vitória.

A pergunta seguinte foi do jornalista Maurício Stycer.

Vocês podem detalhar mais sobre como um patrocinador pode atrapalhar a produção de um reality?

A pergunta foi direcionada a Daniela Busoli, referindo-se ao programa Busão do Brasil. “Aprendi muito com o projeto do Busão”. Ela ressaltou que os projetos Menino de Ouro, Hell’s Kitchen e Pequenos Campeões foram projetos com diversos patrocinadores. O Busão do Brasil foi onde Daniela aprendeu a dosar o desejo do patrocinador com o conteúdo do artístico.

Todo reality possui alguns riscos, especialmente os de confinamento. No Busão do Brasil eram vários casais e a polêmica gerou em torno do fato do conteúdo do projeto ter sido comprometido pelo comportamento do casting durante o programa.

Como é a relação com produtoras independentes? Vocês desenvolvem e vocês mesmos produzem ou existem parcerias?

A Medialand não aceita projetos externos. Eles só produzem o conteúdo que é criado internamente. Isso se da ao fato de que eles consideram que toda vez que você traz um sócio para o projeto isso acaba gerando um aumento no orçamento, deixando o programa mais caro. Segundo Carla, a TV não tem mais o dinheiro que teve no passado. Diretriz da Medialand é cortar custos, portanto a produção é in house.

Fazendo o contraponto, Daniela Busoli diz preferir as co-produções, especialmente no que diz respeito ao compartilhamento de recursos físicos como estúdios. Na opinião dela, ‘Quem divide, multiplica’. 

Como é o equilíbrio entre produzir reality, que não gera acervo, numa composição de programação numa emissora?

Essa pergunta foi feita pelo mediador da mesa e o primeiro a responder foi o William, do SBT. Na opinião dele, somente o tempo irá dizer. O reaproveitamento de conteúdo de reality show na grade da emissora é focado para quem gosta muito do gênero. Carla Albuquerque disse que a Medialand vende latas de realities para o mercado Coreano.

Eles compram episódios de baciada

Fernando, da BAND, disse que a linearidade da programação é uma maneira de consumir conteúdo muito importante para a interatividade. E isso tem valor na grade da emissora. Citou que o Master Chef se tornou expressivo pelo Twitter, com as pessoas opinando sobre um conteúdo que já está gravado. Porém, no Master Chef Júnior houve o outro lado da moeda, quando internautas fizeram comentários pedófilos sobre uma das participantes. Esse é o lado ruim de deixar aberta a possibilidade de interação.

André perguntou se foi ruim para a BAND ou para o programa. Fernando respondeu que foi ruim pelo acontecido. Eles estavam tranquilos no início do projeto, pois as pessoas são livres para comentarem o que quiserem. Fernando pontuou que a BAND não mexeu no programa em função disso.

Quem são esses profissionais que estão fazendo roteiro de reality? Como é a formação da mão de obra?

De um modo geral, não existe uma formação específica. Fernando ponderou que os formatos no Brasil são muito utilizados em programas de auditório, onde o apresentador acaba engolindo o formato. E o roteirista precisa estar apto a adaptar o conteúdo de acordo com a situação. Carla disse que o roteirista de reality precisa trabalhar com material que já foi gravado. E por isso, trata-se de um exercício de humildade para o roteirista.

Sobre a humildade dos roteiristas.

Direito Autoral

Sobre essa questão do roteiro, é importante aprofundar um ponto que não foi muito abordado no painel. Para isso eu peço licença ao leitor do blog pois farei o registro de um ponto de vista pessoal. O reality é um gênero repleto de sub-gêneros. E cada um desses sub-gêneros possui suas próprias características de criação e produção. Enquanto no docu-reality o roteiro final é montado após a decupagem do material que foi captado, no reality de talentos, por exemplo, é preciso imaginar dinâmicas para que sejam criadas situações de conflito e humor entre os participantes. Isso é criação, isso é roteiro.

É sempre delicado falar que ‘reality não tem roteiro’. Esse tipo de declaração soa mais como uma desvalorização do trabalho do roteirista, do que como uma maneira de definir o formato. Até porque mesmo o docu-reality possui roteiro, que é feito principalmente (e não exclusivamente) na pós. Muitas vezes é possível se apoiar em conceitos da dramaturgia para a criação de formatos de reality. Personagens, arquétipos, dinâmicas de conflitos, formato do programa, ponto de vista da narrativa são apenas alguns exemplos de elementos da dramaturgia que podem ser aplicadas na criação de um reality.

Essa cultura de desvalorizar o roteirista é comum no mercado brasileiro, ao contrário do que acontece no exterior. Falar que determinado tipo de programa não tem roteiro, é uma maneira que o produtor tem de tirar o crédito do roteirista e de não dividir os valores oriundos do Direito Patrimonial sobre a obra. Nesse sentido, a Associação de Roteiristas está promovendo uma revisão na Lei de Direito Autoral junto ao MinC e ao lado de outras associações de autores. O objetivo é remunerar melhor os autores e roteiristas pela sua criação, reconhecendo-os como parte importante no processo de produção do audiovisual brasileiro.

No mercado brasileiro, essa mudança de cultura está apenas começando. Passos importantes já foram dados, tanto no sentido de revisar a Lei de Direito Autoral, quanto nos modelos de negócios de algumas produtoras.

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