No último final de semana, eu pude participar de um mais um workshop internacional. O professor foi Craig Bolotin, um roteirista e diretor de cinema americano com 30 anos de experiência em Hollywood. Promovido pela Operahaus, o curso aconteceu em São Paulo durante três dias. Estive lá graças à cortesia que recebi da Associação dos Roteiristas.

Como sempre faço, vou compartilhar aqui um pequeno resumo de tudo o que rolou no workshop. Serão três posts, um para cada dia do curso.

Craig Bolotin: Primeiro dia.

Regras.

O trânsito de São Paulo não me permitiu pegar o começo da primeira aula. Cheguei com 40 minutos de atraso, quando Craig falava sobre como seria o curso e sobre o processo de escrita. Ele começou abordando os fundamentos da escrita para que todos saibam como as regras básicas funcionam. Como ele odeia regras, Craig fez questão de lembrar que antes de quebrá-las, é preciso conhecê-las. Ele reforçou essa ideia durante os três dias do curso. Para exemplificar, fez uma citação:

Todo filme tem um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem. (Jean-Luc Godard)

Craig também reforçou a necessidade da prática constante da escrita. Dificilmente seu primeiro roteiro será algo bom. Por isso, é preciso escrever, escrever e escrever. Colocar as técnicas em prática é importante para memorizá-las. Com o tempo, esse processo se torna mais intuitivo. Ele disse ainda que o escritor/roteirista possui uma grande responsabilidade, pois atualmente o cinema e a TV são as principais fontes de informação. É como aprendemos sobre o mundo.

Finalizando essa parte das regras, ele mencionou que o cineasta Francis Ford Copola trabalha muito a estrutura de seus roteiros. E “se o Copola faz, todos deveríamos fazer.”

Mercado.

Para falar sobre o mercado, Craig deu um dado interessante: 70% do faturamento dos filmes americanos é feito fora dos EUA. Ele credita esse fator à grande expansão do número de salas de cinema ao redor do mundo, em especial na China e no sul da Ásia. O crescimento do mercado Chinês foi de 36% nos últimos cinco anos. Ele citou como exemplo o caso do remake do Robocop. O filme de Padilha não fez sucesso nos EUA, mas faturou muito em outros mercados. Ele completou: “o roteiro é uma porcaria”.

Gênero.

Depois de um breve intervalo, Craig começou a falar sobre gênero. Trata-se de uma ferramenta para organizar o modo como a história vai ser contada. Ele disse que o estudo do gênero é muito importante antes de começar a escrever. Esse trabalho vai ajudar na estrutura da sua história. Por isso, é importante estudar bem o gênero antes de começar o trabalho de escritura do roteiro.

Todo filme meu é um filme de gênero: Cães de Aluguel é um filme de crime onde não se vê o crime. (Quentin Tarantino)

Vários autores de manuais de roteiro fazem classificações dos gêneros. Craig fez a sua própria lista:

• Ação;
• Thrillers versus Detetive: Diferença entre o Thriller e de filme de Detetive é que no Thriller você sabe quem é o vilão. No filme de detetive, isso não acontece;
• Ficção Científica: Um bom filme de Ficção científica deve refletir os medos e os perigos da sociedade atual;
• Fantasia;
• Guerra;
• Crime;
• Terror: Esse gênero de filme consegue viajar o mundo. São bem aceitos nos mercados, de um modo geral;
• Amor;
• Dramas sérios;
• Comédia.

Não pense que escrever sobre um gênero é obedecer fórmulas prontas. Craig enfatizou que quanto mais pessoal for um roteiro, mais universal ele será e melhor será o filme. Parece contraditório, mas o fato é que você precisa colocar um pouco de você na história para que as outras pessoas se identifiquem com ela. Generalismos não causam impacto algum nas pessoas, portanto escreva histórias pessoais. Se você escrever a cena que mais te envergonhou na vida real, e que ninguém sabe, essa será a cena mais interessante do seu filme.

Para escrever um roteiro, escolha um gênero, estude o gênero e coloque um pouco de você nele. Não é preciso reinventar o gênero, nem copiar filmes de sucesso.

“Filmes de gênero podem ser filmes muito pessoais”. (Kurosawa)

Dentro do filme de gênero há três abordagens principais para o seu tema: relacionamentos, questões sociais e políticas, homem versus natureza. Para exemplificar tudo o que foi falado até aqui, Craig passou trechos de dois filmes.

O Poderoso Chefão

Trata-se de um filme que inovou em seu gênero. Isso porque trouxe a premissa de um filme de gângster, sem ter um só tiro na sequencia de abertura. O filme começa com uma cena de casamento, que quase fez com que Copola fosse demitido. Afinal de contas, ele passou uma semana inteira rodando essa cena enquanto o estúdio o questionava sobre onde estavam os tiros e as perseguições.

O Poderoso Chefão é um bom filme, pois ele é muito pessoal para o Copola. É uma obra de gângster, mas com foco no aspecto familiar da máfia. Copola transferiu para a história conflitos familiares que havia vivenciado. Craig disse que Copola entende muito pouco sobre a máfia, mas ele entende muito sobre família. E foi por isso que o filme deu certo.

Ser um artista, significa produzir coisas pessoais.

Distrito 9

É filme muito político, gravado como um docu-drama. Na opinião de Craig, Distrito 9 tem uma das melhores aberturas do gênero. O filme é sobre uma nave alienígena que chega do espaço e para sobre a África do Sul. Depois de nove dias sem nenhum contato, os humanos invadem a nave e encontram uma raça de alienígenas subnutridos e muito vulneráveis. Um bairro de habitações é criado abaixo da nave para ajudar os aliens. Rapidamente isso se transforma numa favela. É um filme extremamente político que fala sobre racismo. Inovou na temática e na abordagem que mistura documentário com ficção.

Reforçando o que foi dito antes, “para quebrar as regras, é preciso conhecê-las”.

Essas foram as anotações do primeiro dia. Continue ligado no blog para acompanhar o restante das anotações sobre esse curso. Se você estava no workshop e sentiu falta de alguma informação aqui, coloque nos comentários que eu atualizo a postagem. =]