Como escrever projeto para TV?

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Atualmente, essa pergunta habita os pensamentos de muitos roteiristas que pretendem escrever projeto para TV, especialmente com as novas oportunidades que surgiram após a lei da TV paga. Eu cheguei a falar algo nesse sentido nos posts do evento do Netlab TV, mas esse assunto merece uma atenção maior. Nesta página iremos abordar as principais questões relacionadas ao tema. Se você desejar se aprofundar, convido a ler os outros artigos da série Projeto para TV onde detalhamos ainda mais as etapas da elaboração de projeto. Tá tudo no índice, logo a seguir:

Índice

Neste tópico apresentamos uma introdução geral ao tema, abordando diversos aspectos da elaboração de um projeto de conteúdo para televisão.

Como nasce um projeto? De onde vêm as ideias? Neste artigo, tratamos com mais detalhes sobre como as ideias de programas são criadas e estruturadas.

A produção de televisão é realizada por equipes grandes e multidisciplinares, Saiba mais sobre as etapas envolvidas na execução de um produto audiovisual: a pré-produção, a produção e a pós-produção.

Quanto custa o meu projeto? Para responder essa pergunta, você precisa saber fazer um orçamento. Entenda como os valores são organizados e baixe gratuitamente um modelo de planilha de orçamento para você usar.

Alguns executivos de TV gostam de dizer que boas ideias são aquelas que “ficam de pé”. Ou seja, são produtos que possuem conceitos sólidos, estão bem estruturados e possuem um planejamento para possibilitar o retorno financeiro. Um modelo de negócios é o que vai deixar seu projeto “de pé”.

Se você quiser se aprofundar mais nesse assunto, conheça os nossos resumos dos principais eventos do mercado de televisão. Seminários, cursos e palestras do Rio Content Market, Telas Fórum, Social Media Week, dentre outros, estão disponíveis aqui.

Introdução

Todo roteirista tem seus próprios métodos de trabalho, suas próprias maneiras de utilizar as técnicas de escrita para TV. Por isso, não vou abordar a criação de conteúdo nesse post. Parto do pressuposto de que sua ideia já está estruturada e registrada na Biblioteca Nacional, para poder abordar o que vem depois disso.

A questão do mercado.

Uma das coisas mais importantes para o roteirista tirar sua ideia do papel é exercitar o desapego. Não pense que seu projeto vai chegar na televisão exatamente do jeito que você escreveu. Por mais original que seja, sua ideia precisa estar adaptada às necessidades do mercado. E quem entende disso são os executivos dos canais. No processo de análise do seu projeto, poderão ser solicitadas várias adaptações na obra. Isso é normal.

Não tenha o capricho de rejeitar todas as alterações, pois são elas que tornarão sua obra viável. Portanto, tente se afastar do apego emocional com sua obra. Não tenha medo de defender os pontos fundamentais dela, mas também não tenha medo de fazer as alterações. Ter paixão pelo projeto é fundamental para convencer executivos de TV, mas insistir nisso é como tentar convencer um Corinthiano a torcer pelo Palmeiras. Não faz sentido, entende?

Como tornar seu projeto para TV interessante.

Além da ideia original, o seu projeto precisa ter um orçamento sedutor. Não seja megalomaníaco. Deixe a pirofagia de lado ao escrever sua obra. Tente torná-la algo fácil de ser produzido. Tenha em mente que um roteirista estreante, ou novato, dificilmente emplacará um novo Game of Thrones, por mais que tenha talento e potencial. Portanto, é preciso ter pé no chão e não viajar muito na maionese.

Se você é um autor que não conhece a rotina de produção, tente se aproximar desse ambiente de alguma maneira. Saber como as coisas são construídas na TV é fundamental para que você escreva projetos realistas e interessantes. Dê asas à sua imaginação, mas ponha o pé no chão antes de abordar algum executivo de TV. Eles precisam ter certeza de que sua obra é algo possível de ser produzido.

Tenha um modelo de negócio.

Pense no seu projeto para TV como um ativo, igual ao mercado de ações. Porque alguém compra ações? Para poder receber os dividendos ou fazer lucro com ela mais tarde. O seu projeto precisa se tornar um ativo interessante para a emissora, que precisa vislumbrar o potencial econômico dele. Tente pensar em como sua obra artística pode fazer dinheiro. Elabore um modelo de negócios para cada projeto que você escrever.

Esse tópico é amplo e um pouco complexo, pois existem muitas variáveis aqui. Para o seu projeto ser produzido ele vai precisar de um orçamento detalhado. Um modelo de negócio irá ajudar a viabilizar esse orçamento e a projetar o retorno sobre o investimento. Seja usando parcerias com investidores privados, seja usando leis de incentivo ou com crowdfunding. São várias as possibilidades. O importante é mostrar ao executivo de TV quais são os riscos que ele estará correndo ao comprar a sua obra. Não existem projetos (nem investimentos) sem riscos. Por isso, em geral, eles preferem os que possuem a menor margem de risco possível.

Não critique um executivo de TV por ele não apostar no novo talento ou na inovação. Esse mercado é conservador por natureza, assim como muitos de nós somos. Ou você colocaria boa parte do seu dinheiro da poupança no mercado de ações, sem saber como ele funciona exatamente?

A importância de um plano de negócios.

Plano de negócios e modelo de negócios são coisas diferentes, porém complementares. Se você pretende atuar como uma produtora de criação ou produção de conteúdo para o mercado audiovisual, é importante que sua empresa tenha um plano de negócios. O Sebrae possui um ótimo manual sobre esse assunto.

Enquanto a criação de um modelo de negócios é algo mais rápido de ser feito e baseado principalmente em hipóteses, o plano de negócios é mais demorado e é baseado em dados reais. A criação de um plano de negócios vai ajudar no crescimento da sua empresa, uma vez que ele te obrigará a estudar a concorrência, as oportunidades, os custos de atuação no mercado, dentre muitos outros itens vitais. Durante o processo de escritura do seu plano de negócios, você poderá observar melhor o mercado e o seu posicionamento dentro dele.

No âmbito dos projetos, o plano de negócios vai proporcionar uma análise profunda do mercado e das necessidades de produção de sua obra. Ele pode ser um grande diferencial na hora de vender o seu projeto. Tanto o modelo de negócios, quanto o plano de negócios se caracterizam pelo caráter técnico. Pra quem está acostumado a trabalhar com arte, esses tópicos podem ser especialmente difíceis. Contudo, se você quiser ser produtor independente, é melhor estudá-los.

Sobre as leis de incentivo.

Para estimular o crescimento da produção audiovisual independente no Brasil, as três esferas do governo instituíram leis de incentivo para esse mercado. Existem leis municipais, estaduais e federais. A maioria delas funciona com base no conceito de renúncia fiscal. A ideia é simples. Empresas ou pessoas físicas podem destinar para a produção audiovisual uma parcela do que pagariam de imposto. Desse modo, o governo investe indiretamente no mercado, ao abrir mão de uma parcela dos impostos devidos pelos contribuintes.

A Ancine é uma agência federal dedicada à regulação e ao fomento do mercado audiovisual. Para poder enquadrar seus projetos em algumas das leis que vou mencionar aqui, sua produtora precisará estar cadastrada na Ancine. Boa parte dos trâmites pelos quais os projetos incentivados passam se dão dentro dessa agência. Clique nos links abaixo para fazer o download dos textos em PDF.

  • Lei nº 8313 (Rouanet): Renúncia fiscal com base no Imposto de Renda. É dedicada a preservação da produção e do patrimônio cultural brasileiro. O cinema de longa e curta metragem está contemplado nessa lei.
  • Lei nº 8685 (Audiovisual): Renúncia fiscal com base no Imposto de Renda e em impostos específicos da atividade audiovisual. Essa lei contempla projetos de cinema e TV. Há um mecanismo para captação de dinheiro pela venda de cotas de investimento no mercado de capitais.
  • Lei nº 12.485 (Lei da TV Paga): Essa lei instituiu cotas de tela para a produção independente brasileira nos canais de TV por assinatura.
  • Lei nº 12.268 (ProAC do Governo do Estado de SP): Renúncia Fiscal com base no ICMS. Também atua com fomento via publicação de editais.

Editais e Programas.

Um outro mecanismo importante de incentivo é realizado por meio de editais ou programas de investimento. Uma verba é destinada para o fomento de áreas ou projetos específicos da produção independente e um edital é publicado para definir as regras de participação e seleção dos contemplados. Os editais costumam ter prazos menores e critérios de seleção baseado em concurso, enquanto que os programas possuem linhas de investimento fixas e a aprovação dos projetos pode se dar de modo automático.

Para se ter uma ideia, no ano de 2013 a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Fomento ao Cinema, realizou um edital específico para o desenvolvimento de projetos audiovisuais para cinema e TV. Haviam três linhas de investimento dedicadas ao desenvolvimento da ideia em si, contemplando inclusive projetos transmídia e de games. O investimento no desenvolvimento de projetos é algo relativamente novo, estimulado pela participação ativa de alguns membros da Associação dos Roteiristas nos debates dessa área.

  • Regulamento geral do PRODAV: Trata-se do regulamento do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro. Esse programa utiliza recursos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). O regulamento é um pouco extenso, mas vale a leitura. O FSA foi muito criticado pela produção independente por conta da demora na aprovação dos recursos. Característica que a Ancine prometeu mudar.

Se você conhece alguma legislação de incentivo que não foi abordada nesse post, por favor, deixe uma indicação nos comentários.

Arrume bons parceiros.

Bons parceiros ajudam a diminuir a margem de risco do seu projeto para TV. É difícil confiar que uma produtora pequena, que está no mercado há pouco tempo, seja capaz de produzir uma temporada completa de uma série de ficção científica, por exemplo. Tente procurar produtoras que já tenham algumas obras produzidas em seu portfólio. Isso dá uma segurança ao exibidor de que a obra será produzida e entregue. Se você conseguir uma parceria com uma produtora que já trabalha com o canal, melhor ainda.

Atire no lugar certo.

Adianta alguma coisa mandar um projeto de reality show musical para o History Channel? Ou um documentário sobre a vida dos maquinistas ferroviários para a ESPN? Programa de culinária para a Discovery? Antes de sair abordando o mercado, saiba exatamente onde você irá atirar. Entenda como o seu projeto irá se encaixar na grade de programação da emissora. Faça uma pesquisa de quais emissoras são compatíveis com seu projeto, pesquise a grade delas e adapte sua ideia para cada canal que você resolver abordar. Lembra do desapego?

Faça uma apresentação objetiva.

Ao mandar seu projeto para algum executivo de TV, seja o mais objetivo possível. Aborde somente os pontos fundamentais e mostre a ele que você conhece o perfil do canal e da grade de programação dele. Algumas emissoras possuem modelos próprios de projeto, com os pontos que são fundamentais para eles. Veja na lista abaixo:

SONY

Possui três canais: Sony, Spin e AXN. Pontos fundamentais na primeira apresentação:

  • Título;
  • Formato do projeto;
  • Número e duração dos episódios;
  • Canal a que se destina;
  • Orçamento total e por episódio;
  • Sinopse;
  • Produtora.

Pontos avaliados após o projeto ser aprovado pela Sony:

  • Piloto;
  • Negociação com a matriz;
  • Adequação ao perfil do canal;
  • Alinhamento com o público;
  • Execução.

A&E Ole Networks

Possui os canais A&E, History Channel e Biographic Channel. Pontos fundamentais:

  • Descritivo da ideia;
  • Sinopse do programa;
  • Cronograma de produção;
  • Orçamento;
  • Apresentação da Produtora;
  • Apresentação da equipe principal;
  • Teaser.

Turner

A Turner possui canais como TCM, Space, TNT e Cartoon Network. Eles desenvolveram um site específico para o recebimento de projetos.

Globosat

A Globosat também desenvolveu um portal específico para o recebimento de projetos. Acesse aqui. As produtoras cadastradas no sistema podem enviar projetos para todos os canais da Globosat. Após avaliação interna, eles entram em contato com os produtores dos projetos que acharam mais interessante para uma reunião.

De todo modo, comparecer aos eventos de televisão é uma boa maneira de encontrar pessoalmente os executivos dos canais. Em alguns desses eventos também é possível participar de pitchings e de rodadas de negócios com as programadoras.

Espero que essas informações ajudem você, roteirista, a lapidar melhor seus projetos para a TV. Se tiver algo a acrescentar, deixe nos comentários. Se quiser se aprofundar mais nesse assunto, recomendo a leitura dos outros artigos dessa série. Nela, disponibilizei alguns modelos para download e aprofundei mais alguns assuntos que surgiram nos comentários deste artigo. E pra quem gosta de livros, recomendo dois títulos muito interessantes abaixo.

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