Foco Nelas – Resumo do evento

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Como já havíamos avisado anteriormente aqui no site da Origina, ontem aconteceu a primeira edição do Foco Nelas, no MIS de São Paulo. O evento apresentou dados que retratam a presença feminina, ou a falta dela, no mercado audiovisual brasileiro. O painel foi dividido em três momentos: AVON, Free The Bid e Selo Elas. O resumo de tudo o que foi falado você pode conferir abaixo.

Foco Nelas, Resumo do Evento: AVON – FAMA

FAMA é a sigla para Fundo Avon de Mulheres no Audiovisual. Como o próprio nome sugere, o FAMA é um fundo que visa patrocinar obras que envolvam a participação de mulheres na direção. A apresentação foi realizada pela Carolina, uma das idealizadoras do FAMA e profissional do Marketing da marca.

Carolina disse que a ideia do projeto nasceu após ela ter participado do evento ‘Quem tem medo das mulheres no audiovisual?’, e ter tido contato com os números que representam a dura realidade das mulheres que trabalham nesse mercado. Ela explicou também que a AVON é uma marca que apoia as mulheres há 130 anos e não poderia deixar de apoiar as mulheres nessa causa.

Apesar da marca já ter patrocinado obras audiovisuais no passado, essas iniciativas eram pontuais. O longa Que Horas Ela Volta (2015), dirigido por Anna Muylaert, e algumas edições do Festival do Minuto são alguns exemplos. A proposta do FAMA foi organizar a presença da marca nesse mercado, servido de suporte para a atuação feminina.

Alguns dados serviram de base para essa nova estratégia. Segundo a pesquisa feita pela AVON, até o ano de 2016 apenas 17% das obras registradas na ANCINE possuíam mulheres nos cargos de direção. A presença feminina nos filmes lançados comercialmente é maior, na casa dos 22%, mas ainda muito inferior aos homens.

Para levantar o projeto, a marca contou com a parceria da produtora Casa Redonda, liderada pela produtora executiva, Minom  Pinho. A plataforma do FAMA prevê o patrocínio de projetos de produção e também de capacitação. No ano de 2016 a AVON patrocinou 3 longas metragens para cinema: Pedro, de Lais Bodansky, Diálogos com Ruth de Souza, de Juliana Vicente, e Paraíso Perdido de Monique Gardenberg.

A marca também patrocinou eventos que visam debater a presença feminina nesse mercado, como o FIM – Festival Internacional de Mulheres no Cinema, o Seminário Internacional Mulheres em Foco, além de uma parceria com o Selo Elas em atividades de capacitação.

O primeiro edital de patrocínio do FAMA veio em 2018 e recebeu 470 inscrições oriundas de 15 estados do país. A escolha das vencedoras levou em consideração também o critério de regionalização, para incentivar iniciativas fora do eixo RJ-SP.

Free The Bid

Mariana Souza e Mariana Youssef foram as responsáveis por apresentar a iniciativa Free The Bid. Trata-se de um projeto que tem sua origem nos EUA e que está crescendo cada vez mais no Brasil. Num primeiro momento, Mariana Youssef apresentou os dados de uma pesquisa realizada por ela no mercado publicitário, que retrata bem a ausência das mulheres.

No mercado de publicidade, existem 367 diretores ao todo, sendo que apenas 46 são mulheres. Dos 2090 filmes analisados nos portfólios das produtoras, apenas 263 foram dirigidos por mulheres. Esses números baixos se justificam por meio do diagnóstico que Youssef traçou.

As concorrências internas nas agências não levam em consideração as mulheres. Se elas não participam da concorrência, não conseguem mostrar seu talento e não ganham o trabalho. E sem trabalho, elas não geram portfólio que lhes daria acesso a mais trabalhos.

Para quebrar esse ciclo, o Free The Bid aborda as grandes agências incentivando-as a trazerem pelo menos uma mulher para participar da concorrência pelo trabalho. Atualmente, 12 agências são signatárias do Free The Bid. Dentre elas a Publicis Brasil.

Para falar sobre as iniciativas da agência relacionadas às mulheres, o CEO da Publicis Brasil, Eduardo Lorenzi, subiu ao palco. Ele lembrou que a maior parte da população brasileira é formada por mulheres e que a grande maioria delas não se sente representada na publicidade.

Além de serem signatários do Free The Bid, a Publicis se organiza também numa frente de capacitação das mulheres. Isso se dá por conta do diagnóstico que eles fizeram apontando para a ausência das mulheres em cargos de direção de criação.

A agência descobriu nessa pesquisa que as mulheres são desencorajadas a serem diretoras de criação ainda durante a faculdade. Por isso, muitas delas acabam direcionando suas carreiras para outros caminhos. Pensando nisso, eles criaram o programa ENTRE, direcionado à capacitação de diretoras de criação.

Selo Elas

Finalizando os painéis, Bárbara Strum da Elo Company apresentou alguns dados colhidos pelo Selo Elas, sobre a presença feminina no cinema. Ela estava acompanhada no palco pela diretora Suzana Lira. Bárbara explicou que a criação do Selo Elas também foi amparada num estudo de mercado realizado pela distribuidora.

A ausência feminina nos sets de filmagem é retratada pelo já famoso teste de Bechdel, baseado em três perguntas simples. Há mais de duas personagens mulheres com nomes próprios no filme? Elas conversam entre si? Sobre algo que não é um homem?

Bárbara apontou o ano de 2010 como o início de uma transformação no mercado cinematográfico, motivada por uma mudança de comportamento na sociedade. Naquele ano, Guerra ao Terror foi o primeiro longa dirigido por uma mulher a vencer o Oscar de Melhor Direção. Kathrym Bigelow venceu inclusive seu ex-marido, o diretor James Cameron, que concorria na mesma categoria com o longa Avatar.

A Disney entrou nesse movimento em 2012, lançando dois longas de animação: Valente e Moana. Em 2017, Moonlight recebe o Oscar de Melhor Filme. Esse longa foi produzido majoritariamente por mulheres. No mesmo ano, há o lançamento de Mulher Maravilha, protagonizado e dirigido por mulheres.

No ano de 2018, a série Conto de Aia, que aborda a mulher como propriedade expondo a cultura do machismo, vence diversos prêmios. Desse modo, é possível perceber a consolidação do interesse comercial por obras dirigidas por mulheres.

Pensando nisso, O Selo Elas se divide em duas frentes de atuação. A primeira frente é a de capacitação, realizando cursos e workshops nos principais eventos de mercado. A segunda frente de trabalho é formada por uma rede de consultores, que ajudam a lapidar os projetos em desenvolvimento que serão lançados comercialmente pelo Selo.

São mais de 20 consultores atualmente no Selo Elas, que teve em Amores de Chumbo o seu primeiro projeto lançado. A Diretora Suzana Lira terminou o painel falando um pouco sobre a dificuldade em ser mulher num cargo de direção. Ela passou 12 anos como assistente de direção e só conseguiu se tornar diretora quando abriu a própria empresa.

Seu último trabalho lançado, o documentário Torre das Donzelas, foi premiado em diversos eventos. Ela também falou sobre a importância das mulheres contratarem outras mulheres no mercado. Isso aumentará a presença feminina em diversas áreas.

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