Ministério da Cultura no Rio2C

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O Rio Content Market é o maior evento do mercado audiovisual brasileiro. Ele reúne players, produtores e criadores de conteúdo num ambiente favorável ao networking e aos negócios. Em 2018, o evento dedicado ao mercado audiovisual aumentou de tamanho, mudou o nome para Rio2C e trouxe em sua programação as áreas de música e inovação.

Neste contexto de mudanças, o Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, ministrou um painel onde apresentou as novidades implementadas na ANCINE e no Ministério, sob sua gestão desde Julho de 2017.

Ministro da Cultura – Sérgio Sá Leitão, no Rio2C

O Ministro começou o painel destacando a importância do setor de games para a economia. Incorporar esse setor ao espectro do audiovisual é muito importante. O Ministro fez questão de  destacar a dimensão econômica das atividades culturais, explicando como a sociedade se beneficia dessas atividades, para além dos agentes do mercado audiovisual.

Nesse momento, ele passou a falar das campanhas promovidas pelo MinC, #CulturaGeraFuturo e #AudiovisualGeraFuturo. O principal objetivo dessas campanhas é demonstrar ao público que o setor cultural é fundamental para a economia, por produzir produtos e negócios de alto valor agregado.

[pullquote]O objetivo é produzir uma mudança de olhar sobre a atividade audiovisual. População não se dá conta de que essas atividades contribuem para o desenvolvimento do País, com impacto em geração de renda, emprego, inclusão e arrecadação tributária. Atividade cultural não é uma atividade secundária, menos importante.[/pullquote]

Sá Leitão seguiu traçando um panorama da política pública para o setor, dizendo que não temos uma política de incentivo e fomento à altura da relevância da economia criativa brasileira. A ambição do Ministro é mudar isso, por meio dessa campanha.

Como a crise política afeta a cultura

Ministro da Cultura no Rio2C

O Ministro da Cultura explicou que a dualidade do pensamento e a polarização política são negativas para a cultura como um todo. Durante seu trabalho em Brasília, essa divisão é muito mais clara e intensa. Há deputados que fazem pronunciamentos diariamente atacando Lei Rouanet, o FSA e setor cultural. E eles fazem isso com base numa visão distorcida do setor.

O peso das políticas públicas culturais em relação a todos os outros mecanismos de incentivo e fomento em vigor para os mais diversos setores é de 0,64% . Irrelevante em comparação com o total da economia.

[pullquote]A crítica é uma cortina de fumaça que atende os interesses de determinados grupos e não o do setor cultural e do país.[/pullquote]

A matriz econômica brasileira é industrial e remonta ao final do século 19, início do século 20. Uma economia muito baseada em commodity, que possui baixíssimo valor agregado. O Ministro destacou também que 25% dos desempregados hoje em nosso país são jovens de 18 a 24 anos. Segundo ele, isso se deve à falta de educação de base e também à falta de motivação dos jovens. Uma vez que eles já estão inseridos no mundo digital, sua motivação para atuar em serviços mecânicos e repetitivos é muito pequena.

O peso da economia criativa

A saída para o problema do desemprego entre os jovens é a economia criativa. São atividades mais atraentes para essa geração e com alta capacidade de geração de emprego. O futuro da economia brasileira está no setor de serviços, e dentro dele está a economia criativa que atualmente responde por 2,64% do total do PIB. A cultura é uma das dez maiores atividades econômicas no Brasil, estando a frente de setores tradicionais como a indústria têxtil e a farmacêutica.

Esse setor gera cerca de R$ 10 bilhões em arrecadação de impostos federais. Ou seja, estão fora dessa conta os impostos estaduais e municipais. Além disso, a cultura emprega 1 milhão de pessoas diretamente, sem contar os empregos indiretos. A taxa de crescimento esperada para o setor cultural no próximo ano é de 4,6%.

Para exemplificar o potencial da cultura, Sá Leitão apresentou alguns números sobre o evento de Reveillon no Rio de Janeiro:

Custo do evento: R$ 25 milhões;
Impacto de R$ 1.94 milhões na economia;

Outro evento no Rio de Janeiro com o mesmo tipo de retorno é o Carnaval. Todos os dados são de um estudo da FGV, encomendado pelo MinC. Sérgio Sá Leitão pediu para que os agentes culturais do setor ajudem a compartilhar essa campanha, para instruir melhor as pessoas sobre a atividade cultural.

Orçamento do Ministério da Cultura

O Ministro também detalhou o orçamento do MinC em sua fala, explicando que esse tipo de informação é algo que ele sempre quis saber e que julga ser muito importante tornar esses dados públicos. Dentre os mecanismos de incentivo à cultura, a Lei Rouanet é o que mais movimentará recursos em 2018: R$ 1,4 Bi.

No Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), principal fonte de recursos para o audiovisual, o desembolso anual é da ordem de R$ 400 milhões ao ano. Em 2018, a promessa é de que esse montante atingirá a marca de R$ 1,2 bilhão. Além das linhas do FSA, o MinC também opera editais para o audiovisual por meio da Secretaria do Audiovisual (SaV).

Enquanto a estratégia de investimento do FSA é o desenvolvimento do setor audiovisual como um todo, as linhas da SaV têm como foco a inclusão. Os editais possuem cotas regionais, de raça e de gênero, incluindo mulheres transsexuais. Além disso, também existem cotas para roteiristas e diretores estreantes e editais temáticos.

Os editais da SaV também são operados com recursos do FSA. Para que seja possível investir no mercado mais de R$ 1 bi em 2018, a otimização dos procedimentos internos da ANCINE e do MinC é fundamental. Até hoje, o FSA arrecadou cerca de R$ 4 bi, mas nem metade disso foi repassado ao setor.

O MinC e o mercado de Games

Já faz alguns anos que o mercado de games deixou de ser brincadeira. O audiovisual interativo é o produto cultural que mais movimenta recursos em todo o mundo. Segundo os dados apresentados pelo Ministro, a indústria dos games cresce 8,5% ao ano no mundo todo.

O Brasil é a 13ª maior indústria de games e a 2ª da América Latina. Quando falamos de consumo, estamos no 4º lugar do ranking. A industria de games deve liderar o crescimento da industria cultural, com estimativa de crescimento na ordem de 16,5% até 2021. Números muito maiores do que música e cinema.

Os dados impressionam, mas eles estão longe de ser novidade. A indústria de games é quase 3 vezes maior do que a cinematográfica e cerca de 7 vezes maior do que a fonográfica.

Extrapolando um pouco o que foi dito no painel, trago um dado que sempre costumo citar pois é um grande exemplo do potencial desse tipo de produto. O jogo GTA V, lançado em 2013, é o game mais caro já feito. A quinta edição da franquia de maior sucesso da Rockstar teve um custo de produção estimado em US$ 265 milhões. Nas primeiras 24 horas de seu lançamento mundial, a arrecadação ultrapassou a marca de US$ 1 Bi. Isso mesmo, em 24 horas.

Levando em conta que o jogo possui uma plataforma online, onde é possível comprar extensões do jogo e embarcar em missões multiplayer, e que a Rockstar lança DLCs pagas para os jogadores (Downloadable Content) continuarem fieis ao game até os dias atuais (2018), esse investimento já deve ter sido pago algumas dezenas de vezes.

Retornando, pela primeira vez o MinC vai organizar um investimento na cadeia produtiva da indústria de games no Brasil. A lógica do investimento é muito similar ao que vem sendo feito no FSA para o cinema e TV, abrangendo vários elos da indústria. Os recursos disponíveis serão da ordem de R$ 100 milhões, 10 vezes mais do que os editais anteriores.

Conclusão: otimismo no painel do Minc no Rio2C

A reorganização do FSA e os novos investimentos do MinC no setor cultural são notícias muito boas para o setor como um todo. A desburocratização e a maior agilidade na liberação dos recursos vai trazer mais previsibilidade para as produtoras, distribuidoras e canais.

Esperamos que essa nova lógica de investimento público seja realmente capaz de atrair investidores privados, tornando o audiovisual, e inclui-se aqui o mercado de games também, um mercado capaz de andar com as próprias pernas. Muito diferente do cenário atual, onde tivemos um grande e importante investimento, mas que ainda não conferiu essa liberdade. Ainda somos muito dependentes do investimento público.

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