Telas Fórum 2017 – Coprodução: grandes e pequenos, momento de união

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O painel intitulado “Grande e Pequenos: momento de união” do Telas Fórum 2017 se propôs a discutir as oportunidades de coprodução que podem existir no mercado audiovisual brasileiro. Com o crescimento da demanda por conteúdos nacionais, percebeu-se que as grandes produtoras independentes não são capazes de suprir toda a variedade de conteúdos necessários para preencher as grades das emissoras de TV paga.

Apesar de possuírem uma boa estrutura de produção, na seara criativa nem sempre eles possuem os melhores projetos. Há uma limitação criativa em suas estruturas. Em parte, isso se deve ao fato de que alguns produtores não adaptaram seus modelos de negócios para valorizar o trabalho dos criativos, como roteiristas e diretores, por exemplo. Muitas vezes, profissionais talentosos optam por continuar com o projeto na gaveta em vez de amarrá-lo num contrato pouco interessante para o criador da obra.

Além disso, sem fomentar departamentos específicos dedicados à criação, o surgimento de conteúdo inovador e relevante se torna cada vez mais difícil.

Intermediação no mercado audiovisual

Aqui peço licença neste resumo para fazer uma breve digressão. O nascimento da Agência Origina em 2017 muito se deve a esse fato. Os contratos de opção e coprodução que nascem na agência sempre procuram defender os interesses de todos os que colaboram para colocar o projeto de pé no seu estágio inicial. De um modo geral, isso significa: roteirista, diretor e produtora.

Além disso, lançamos uma plataforma de serviços para que seja fácil e rápido contratar roteiristas, diretores, script doctoring e muitos outros serviços, aumentando o potencial dos projetos da produção independente. Desse modo, colaboramos para que os produtores menores potencializem seus projetos e ganhem competitividade.

Voltando ao nosso tema central, o painel foi mediado pelo Presidente Executivo da BRAVI, Mauro Garcia, e teve como integrantes os produtores Paulo Schmidt, da Academia de Filmes, Roberto Martha, da Scriptonita, Renata Martins, da Pink Flamingo, Elisa Chalfon, Diretora de Produção da VIACOM no Brasil e Maria Rita Nepomucemo, Executiva de Conteúdo do canal CinebrasilTV.

Mauro abriu o painel comentando sobre a existência de produtoras formadas somente por criativos e perguntou para Paulo Schmidt como a Academia de Filmes, uma grande produtora paulista, recebe projetos.

Os dilemas da coprodução

Paulo falou que atualmente já existem mais de 9 mil produtoras independentes cadastradas na ANCINE. Ele vê a Academia de Filmes como um HUB para as produtoras menores, pois eles são muito demandados pelo mercado. A Academia possui uma plataforma própria para envio de projetos, que angaria uma boa quantidade deles.

Ele comentou que as demandas chegam de muitas maneiras diferentes. “Os projetos caem na produtora por todos os lados”. As produtoras costumam entender da produção em si, ficando longe de informações importantes sobre o mercado e a audiência. Além disso, as produtoras menores costumam chegar com as ideias, mas com pouca informação sobre os canais. A ideia de organizar uma plataforma para receber os projetos vem daí também.  

Elis

Andréia Horta no papel de Elis Regina em filme de Hugo Prata.

Paulo deu como exemplo o filme Elis. Uma produtora menor trouxe a ideia pra ele, pois o diretor não tinha condições de levantar um projeto desse tamanho. A Academia auxiliou na elaboração do modelo de negócios e base de produção, mas toda a produção executiva foi do Hugo Prata, diretor e dono da ideia.

Participação nas receitas dos projetos.

Ao detalhar os aspectos financeiros e técnicos da produção, Paulo comentou que muitos produtores pequenos querem participação de 50% da PI (Propriedade Intelectual) do projeto. Peço licença mais uma vez para uma nova digressão, agora para explicarmos o que é a PI.

O que é Propriedade Intelectual?

A propriedade intelectual é o capital do criativo. Ela está relacionada ao direito autoral da obra e costuma gerar receitas aos seus donos depois que o projeto foi produzido e veiculado. Quando vou explicar isso para as pessoas, uso séries infantis como exemplo pois é mais fácil de visualizar.

Quando uma indústria de alimentos licencia a imagem dos personagens e a marca Turma da Mônica, ela pretende se apoderar do potencial de comunicação que essa propriedade intelectual possui para conseguir atingir os consumidores de maçãs de uma maneira mais eficiente e assim vender mais maçãs. Esse potencial de comunicação está intimamente relacionado ao trabalho do criativo.

Para fazer isso, o dono da indústria que vende maçãs precisa pagar uma licença para usar a PI da Turma da Mônica em seu produto. Esse dinheiro vai para as mãos dos donos daquela propriedade intelectual. No caso, o Maurício de Sousa e quem mais for dono dessa PI com ele.

Não à toa, o case Turma da Mônica é uma das PI brasileiras de maior sucesso no mundo todo. Existem dezenas de produtos e conteúdos com essa marca, distribuídos em diversos países.

Quando um projeto nasce na cabeça de um criativo, ele é o dono de 100% daquela PI. Se o criador de uma série cede a totalidade da sua PI para um terceiro, ele não participará dessas receitas se o projeto se tornar um grande sucesso. Por incrível que pareça, nos contratos que tenho visto entre criativos e produtores, é recorrente a cessão total da PI sem nenhuma participação nas receitas atrelada.

Um ponto importante que o criativo deve considerar é: a sua criação gera receitas sozinha? Dificilmente. Para isso, é preciso que o projeto saia do papel. E esse é o trabalho do produtor. Portanto, faz todo o sentido criativos e produtores unirem esforços para construir PIs de sucesso. O criativo entra com o projeto original e a produtora com a capacidade de transformar esse projeto num produto. Um produto audiovisual não existe sem criação, assim como também não existe sem produção. São duas faces da mesma moeda.

Voltando…

Paulo lembrou que a responsabilidade do proponente do projeto vai muito além de produzir e exibir a obra. Segundo ele, a produtora grande correria um risco maior para executar o projeto do que a produtora menor.

Quando me perguntam sobre os 50%, eu pergunto de volta, qual é o seu papel de produtor no projeto? Você vai vender? Vai captar recursos?

A sugestão que ele deu para ajudar a minimizar esse problema é a ANCINE autorizar a divisão das responsabilidades dos produtores do projeto, por meio de coproponência.

Renata Martins, Pink Flamingo

Em seguida, a Renata da Pink Flamingo deu seu depoimento sobre um projeto realizado em parceria com a FOX. A produtora dela foi a vencedora de uma convocatória para séries de ficção.

Nesse momento, Zico Goes, Diretor de Conteúdo da FOX, que estava na plateia, pediu licença para falar sobre o portal de recebimento de projetos da FOX, pelo qual Renata se inscreveu. Zico explicou que eles fazem uma triagem e convocam 18 produtores para um pitching. É uma convocatória para o desenvolvimento do projeto e não a produção em si. A convocatória de 2018 está com inscrições abertas até o dia 31/05/2018.

Retomando sua fala, Renata explicou que a Pink era focada em branded content e mais tarde passaram a desenvolver conteúdo para TV e Cinema. Pela experiência que acumulou, eles tem a condição de estruturar os projetos de forma muito profissional.

Passaram a apresentar aos canais e os feedbacks eram sempre positivos na parte criativa. Mas o histórico de execução dos projetos da produtora impactava negativamente, pois eram novos no mercado. Por conta disso, passaram a procurar por coprodutores e chegaram na Prodigo. O Kaito, Diretor da Prodigo, entrou no projeto como Diretor Criativo.

Renata finalizou dizendo que se os projetos chegam já melhor estruturados e com possibilidades concretas de financiamento isso facilita negociações.

Elisa Chalfon – VIACOM

Seguindo o debate, Mauro questionou Elisa Chalfon sobre como a VIACOM ajuda a estimular novos produtores.

Elisa disse que é importante chegar o mais estruturado possível.  Deu como exemplo o caso de uma produtora criativa que apresentou um projeto para eles, chamou a atenção. Então o canal investiu no desenvolvimento e ajudou na busca de uma coprodução com uma produtora maior.

Ela lembrou que as produtoras grandes possuem um limite na parte criativa. A VIACOM tem procurado por produtoras e projetos fora do eixo RJ-SP, que tenham uma conexão com uma produtora maior. Elisa finalizou dizendo que um ingrediente decisivo para apostar num projeto ou produtora é a confiança que ela sente na pessoa, o olho no olho.

Após a fala de Elisa, Maria Rita respondeu a pergunta de Mauro Garcia: “Por onde é feita a seleção? Qual o filtro inicial do projeto?”

Maria Rita – CinebrasilTV

A executiva de conteúdo do canal CinebrasilTV explicou que eles possuem uma demanda maior, precisam de quantidade de produtos e por isso o filtro de seleção é menor. Aprovam projetos de produtoras pequenas sem problemas e costumam incluir no orçamento linhas de Consultorias de Direção e Script Doctoring.

Ela costuma sugerir as coproduções para os proponentes dos projetos. As produtoras grandes não estão prontas para absorver todos os players do mercado. Os projetos bons e os produtores grandes acabam atendendo os canais maiores.

Roberto Martha – Scriptonita

Mauro perguntou para Roberto como ele vê as coproduções. Ele explicou que a Scriptonita nasceu apoiada em alguns nortes, já percebendo que é difícil para as grandes gerarem volume de projetos para todos os players. Criação, execução de projeto e gestão de PI são coisas diferentes. Ao montar uma coprodução é importante dividir as especialidades entre as empresas. A Scriptonita é  uma coprodutora por natureza.

Há projetos que foram criados sob demanda para os players, associando-se à produtoras maiores como O2 e Formata. Ele mencionou também que ir para fora do eixo RJ -SP é uma boa oportunidade. Esses recursos investidos fora do eixo precisam retornar como propriedades lucrativas.

Maria Rita aproveitou para concluir que um mercado saudável passa pela otimização dos projetos, para serem mais do que apenas ideias e terem nomes importantes agregados.

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