RCM 2017 – NETFLIX Desenvolvimento de Roteiros

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O sucesso das produções originais da NETFLIX e o impacto que a empresa está causando no mercado audiovisual ao redor do mundo pode ser medido pelo tamanho da fila que este painel apresentou. Centenas de profissionais do audiovisual lotaram o auditório para ouvir o que a Diretora de Originais Internacionais da NETFLIX, Kelly Luegenbiehl, tinha a dizer no painel mediado pelo roteirista e vice-presidente da ABRA, Thiago Dottori, sobre o desenvolvimento de roteiros para a plataforma.

NETFLIX Desenvolvimento de Roteiros

Por conta da fila mencionada, não foi possível pegar o início da apresentação. No momento em que conseguimos entrar, Kelly Luegenbiehl falava sobre os processos internos da empresa. O desenvolvimento de roteiros originais envolve diversos departamentos da NETFLIX. Em seguida, ela mencionou alguns dos projetos originais que estão em andamento, sempre com foco na audiência global.

Enquanto mostrava os traillers, Kelly também apontava algumas questões relacionadas ao desenvolvimento de roteiros. Ela explicou que eles analisam a audiência de modo global para entender as demandas do público. Um estudo é feito sobre os mercados locais, investigando como os produtores tratam e atendem essas demandas. Então, eles criam algo disruptivo para aquele mercado, apostando em projetos que nem sempre seriam a escolha mais óbvia para um executivo tradicional de mídia. E graças ao poder do Big Data, eles conseguem ter uma grande precisão ao traçar essa estratégia.

A aposta na produção de 3%, que foi a primeira série original produzida pela NETFLIX no Brasil, foi de fazer algo que poucos players nacionais (ou nenhum) estavam fazendo: ficção-científica! Ela comentou que a série brasileira vai muito bem nas audiências internacionais, como EUA, Reino Unido, Alemanha e França. Kelly finalizou sua fala dizendo que há mais duas produções em andamento por aqui: uma série sobre a Lava Jato e uma outra chamada Samantha, de comédia.

Perguntas dos roteiristas

Roteiristas no painel sobre Desenvolvimento de Roteiros da NETFLIX
Da esquerda para a direita: Elena Soarez, Pedro Aguilera, Thiago Dottori e Kelly Luegenbiehl. Faltou a Carolina Kotscho que também fez parte do painel.

Thiago Dottori, vice-presidente da ABRA – Associação Brasileira de Autores Roteiristas, mediou o painel e trouxe alguns colegas para participar fazendo perguntas. Foram eles: Elena Soares, Pedro Aguilera e Carolina Kotscho. A seguir, o resumo desse bate papo.

  • Quais temas vocês estão procurando? O que o algoritmo diz sobre isso? Quais formatos de séries funcionam melhor?

Kelly explicou que eles se apoiam bastante no dados de consumo, mas a decisão de produção é uma decisão humana. Eles usam a informação para saber quais tipos de séries produzir nos países, mas não limitam o conteúdo com base nas tendências que o algoritmo analisa do mercado. Sobre os formatos de narrativa, é interessante que as séries apresentem ganchos entre os episódios, em vez de ser uma série procedural que tem um tema fechado dentro de cada episódio. E isso é uma coisa que vem do storytelling.

  • Como vocês estão olhando para essas questões de representatividade?

É algo que eles levam em conta, pois a audiência é global e extremamente diversificada. Então a diversificação das produções é positiva.

  • Para realizar os projetos no Brasil é necessário haver um ShowRunner?

O Showrunner é uma figura que ajuda muito no processo, pois está envolvido com todos os aspectos daquela produção. As decisões devem ser tomadas rapidamente e um profissional com essa função consegue manter a unidade do projeto ao longo do seu desenvolvimento e produção. Porém, eles não possuem a expectativa de encontrar showrunners no Brasil. Portanto, não é necessário haver essa figura para os projetos acontecerem.

  • Há algum aspecto importante de desenvolvimento de roteiros que existe nos EUA e seria interessante que existisse aqui no Brasil?

Kelly disse que é muito importante para o autor conhecer os seus personagens, pois são eles que vão manter o público conectado à série. Comece com personagens fortes e depois evolua para as relações entre os personagens. O casting é importante também, mas na maioria dos casos o desenvolvimento vem do trabalho de roteiro. Os detalhes são muito importantes.

  • Uma das roteiristas comentou sobre a qualidade das notas que os executivos da NETFLIX fazem sobre os roteiros. Qual é a formação acadêmica que um executivo da NETFLIX possui?

Ela explicou que começou como assistente de produção e foi crescendo. Mas o mais importante é respeitar o autor roteirista e a história que está sendo criada. “Temos o mesmo objetivo, que é produzir a série. Então, como fazemos isso juntos da melhor forma?” Esse é o pensamento dominante. As sugestões que chegam dos executivos vão mais no sentido de tornar aquele conteúdo produzido localmente interessante para uma audiência global, mas sem mexer na essência ou nos rumos da história.

  • Como é trabalhar com roteiristas brasileiros?

É um grande desafio. Os roteiristas brasileiros possuem muito entusiasmo, muitas ideias. Isso é positivo e emocionante.

  • Num embate entre a experiência e a expectativa do executivo e o trabalho autoral, quem vence?

Os dois lados precisam saber ouvir e respeitar os criadores. Nem sempre é fácil, mas no fim do dia o respeito deve sempre prevalecer.

Ao encerrar, Kelly disse que a NETFLIX possui um projeto de longo prazo no Brasil e não há um limite de séries ou filmes para serem produzidos por aqui. Ou seja, o momento é ótimo para os roteiristas e produtores brasileiros.

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